top of page

ÁLCOOL E TABACO NA UMBANDA: VÍCIO OU ELEMENTO DE PODER?

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda
Uísque e charuto nas mãos de um médim

De um lado, os que desconhecem, ignoram e não buscam entender. Do outro lado, os que alimentam o preconceito, a intolerância e a ignorância. E assim, o fumo e o álcool seguem sendo assunto para tentarem rebaixar a Umbanda ao patamar de 'lugar de Espíritos atrasados". Lógico, que tal conceito sai das mentes e bocas das pessoas que têm por objetivo atacar os ritos e rituais de Umbanda. Vamos entender o porquê do uso desses elementos nos Terreiros:

Álcool: de acordo com uma reportagem da Revista Super Interessante, o álccol era sagrado para a humanidade, há dez mil anos atrás, possibilitando grandes descobertas que fazem ser hoje, o mundo do jeito que é, com suas inovações e tecnologias que fazem parte do nosso dia a dia. Impérios foram levantados, epidemias foram superadas, guerras foram vencidas. As pirâmides do Egito, as grandes navegações e suas descobertas, o feminismo, o leite em caixinha...

Ainda, de acordo com a reportagem, a primeira poção alcóolica foi preparada na China, por volta do ano 8000 a.C. A análise de jarros encontrados em Jiahu, no norte do país, mostrou que eles continham um drinque feito de arroz, mel, uva e um tipo de cerejas, tudo fermentado.

***

Na época do Imperio Romano, seus soldados levavam o vinho para desinfetar a água nos lugares por onde passavam, e acabaram por descobrir outra grande utilidade do álcool: uma espécie de arma química contra os inimigos. quando chegavam em lugares que queriam conquistar, fingiam amizade e serviam vinho para as pessoas. No dia seguinte, quando as vítimas estavam acordando de ressaca, os romanos voltavam e faziam um massacre.

Não só para incapacitar as pessoas, o álcool era usado. No século XIV a peste negra, se espalhava pela Europa matando 90% das pessoas infectadas. Mas, quando a epidemia chegou na cidade de Oudenburg, mna Bélgica, o abade local proibiu o consumo de água e obrigou os cristãos beber só cerveja. Deu certo! A cerveja, por conta do teor alcóolico era mais dificilmente contaminada, diferente da água. O abade foi canonizado e padroeiro da cerveja - santo Arnoldo.

O álcool servia também como moeda de troca, onde senhores de engenho do Brasil, trocavam a beida por escravos. Assim também faziam os ingleses entre 1680 e 1713, trocaram 5,2 milhões de litros de bebidas, por 60 mil africanos.

Na Umbanda: diferente do que algumas pessoas pensam em relação ao uso do álcool na Umbanda, é preciso entender que não se trata de vício ou apologia ao consumo. O álcool é um poderoso aliado na limpeza e proteção dos médiuns, consulentes e ambientes. Uma Entidade de Umbanda não faz uso do álcool para embriagar seu médium, se isso ocorre é por conta do excesso, algo que deve ser vigiado pelos Cambonos, para que se evite acidentes vexatórios.

O álcool é um grande aliado nos trabalhos de Umbanda, seus benefícios são muitos, se ingeridos em pequenas doses, ou em doses suportáveis pelo organismo do médium. Sim, cada médium tem um limite que deve ser respeitado. Há inclusive aqueles médiuns que não podem fazer uso da bebida alcóolica, e isso é respeitado por sua Entidade, que passa a receber este elemento em seus assentamentos ou obrigações.

Sacralizada nos Terreiros de Umbanda, a bebida alcóolica deixa de ser profana para se fazer sagrada, e por conta disto, precisa ser manipulada com cuidado, responsabilidade e unicamente durante os ritos e rituais. Em alguns Terreiros, após o encerramento dos trabalhos espirituais, não mais é permitido o consumo de bebida alcóolica, salvo em ocasiões especiais e com número de pessoas limitado. Tudo no Terreiro, o que está dentro do Terreiro é sagrado. E aquilo que vem de fora do Terreiro, e passa a ser usado no Terreiro, é sacralizado: este é o fundamento. Ou seja, assim como os amigos se reúnem num bar ou num espaço para comemorar alguma conquista (a festa profana); o mesmo acontece dentro do Terreiro quando Entidades convidam os presentes para confraternizarem, falarem de seus problemas, de suas angústias e de suas conquistas (sacralização). Afinal, quanto mais próximo da realidade do dia-a-dia das pessoas, mais essas pessoas se sentem à vontade para falarem de si e de se libertarem de conceitos e pré-conceitos estabelecidos, que muitas das vezes são a causa de todos os problemas em suas vidas. Mas, para que esse rito tenha os resultados desejados, é necessário muito preparo, resposabilidades e cuidados. Caso contrário, tudo se transforma em uma grande algazarra, sem nenhum resultado positivo.

Bom senso e responsabilidade é a receita para uma vida próspera dentro e fora do Terreiro.

"TRABALHA QUEM PODE, BEBE E CANTA QUEM TEM JUÍZO" (frase copiada da dissertação sobre o uso de álcool nos rituais de Umbanda de Melina Souza Gomes- Universidade Federal do Ceará-https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/10498 ).

O TABACO: considerado desde sempre pelos nossos indígenas uma erva sagrada, o tabaco é usado em rituais de cura e para consumo. Lógico que não podemos confundir o uso do tabaco pelos indígenas, com os cigarros industrializados que trazem em suas composições centenas de substâncias altamente prejudiciais à saúde humana, onde o tabaco de fato, perde toda sua essência.

Como foi dito em relação a sacralização do álcool dentro dos Terreiros, o mesmo acontece com o tabaco, que passa a ser um poderoso instrumento de trabalho, promovendo limpezas energéticas e facilitando a comunicação entre as Entidades e os consulentes. Cada baforada de um charuto, um cachimbo ou até mesmo de um cigarro dado por uma Entidade, é carregado de histórias ancestrais e de poderosas vibrações, com o propósito de limpar e harmonizar os sentidos daquele que está à sua frente.

Ao contrário do que se pensa em relação ao uso do tabaco por Espíritos inferiores, o que de fato ocorre é o seguinte: na realidade, esses Espíritos não suportam o cheiro do tabaco na sua forma original ( folhas verdes ou secas), sendo portanto, viciados em cigarros, por conta da composição dos mesmos, que como já foi dito, possuem mais de 4.700 substâncias tóxicas que causam dependência e várias doenças graves. Vejam bem como uma Entidade trabalha para poder sacralizar um cigarro, já que hoje, os médiuns preferem fazer uso dos cigarros industrializados, ao uso de cigarros de palha e preparos de ervas e folha de tabaco.

O poder das folhas de fumo frescas ou em forma de fumo de rolo, se dá quando vemos uma pessoa que se sente carregada, tomar banho com essas folhas. A sua melhora é visível quase que imediatamente, quando passa a se sentir mais leve e animada. Sem contar do seu uso para auxiliar na cura das erisipelas e feridas na pele.

Prepare você mesmo o fumo do cachimbo de seu Preto-Velho ou Preta-Velha perguntando aos mesmos quais as ervas eles preferem. Isso vai dar muito mais firmeza nas incorporações e nos trabalhos de limpeza. São várias as ervas que podem ser usadas, entre elas: sálvia, alecrim, folha de café, folha de fumo, alfazema, aperta-ruão e tantas outras.

"Vovô eu peço a sua benção. Vovô lhe peço proteção. A fumaça do seu cachimbo, Vovô, faz bem pro nosso coração."





Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating

SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

  • facebook-square
  • Twitter Square
  • Google Square
bottom of page