De um lado, os que desconhecem, ignoram e não buscam entender. Do outro lado, os que alimentam o preconceito, a intolerância e a ignorância. E assim, o fumo e o álcool seguem sendo assunto para tentarem rebaixar a Umbanda ao patamar de 'lugar de Espíritos atrasados". Lógico, que tal conceito sai das mentes e bocas das pessoas que têm por objetivo atacar os ritos e rituais de Umbanda. Vamos entender o porquê do uso desses elementos nos Terreiros:
Álcool: de acordo com uma reportagem da Revista Super Interessante, o álccol era sagrado para a humanidade, há dez mil anos atrás, possibilitando grandes descobertas que fazem ser hoje, o mundo do jeito que é, com suas inovações e tecnologias que fazem parte do nosso dia a dia. Impérios foram levantados, epidemias foram superadas, guerras foram vencidas. As pirâmides do Egito, as grandes navegações e suas descobertas, o feminismo, o leite em caixinha...
Ainda, de acordo com a reportagem, a primeira poção alcóolica foi preparada na China, por volta do ano 8000 a.C. A análise de jarros encontrados em Jiahu, no norte do país, mostrou que eles continham um drinque feito de arroz, mel, uva e um tipo de cerejas, tudo fermentado.
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Na época do Imperio Romano, seus soldados levavam o vinho para desinfetar a água nos lugares por onde passavam, e acabaram por descobrir outra grande utilidade do álcool: uma espécie de arma química contra os inimigos. quando chegavam em lugares que queriam conquistar, fingiam amizade e serviam vinho para as pessoas. No dia seguinte, quando as vítimas estavam acordando de ressaca, os romanos voltavam e faziam um massacre.
Não só para incapacitar as pessoas, o álcool era usado. No século XIV a peste negra, se espalhava pela Europa matando 90% das pessoas infectadas. Mas, quando a epidemia chegou na cidade de Oudenburg, mna Bélgica, o abade local proibiu o consumo de água e obrigou os cristãos beber só cerveja. Deu certo! A cerveja, por conta do teor alcóolico era mais dificilmente contaminada, diferente da água. O abade foi canonizado e padroeiro da cerveja - santo Arnoldo.
O álcool servia também como moeda de troca, onde senhores de engenho do Brasil, trocavam a beida por escravos. Assim também faziam os ingleses entre 1680 e 1713, trocaram 5,2 milhões de litros de bebidas, por 60 mil africanos.
Leia mais sobre a história das bebidas alcóolicas em: https://super.abril.com.br/saude/dez-mil-anos-de-pileque-a-historia-da-bebida#:~:text=Nascia%20a%20agricultura%2C%20e%20com,tipo%20de%20cereja%2C%20tudo%20fermentado.
Na Umbanda: diferente do que algumas pessoas pensam em relação ao uso do álcool na Umbanda, é preciso entender que não se trata de vício ou apologia ao consumo. O álcool é um poderoso aliado na limpeza e proteção dos médiuns, consulentes e ambientes. Uma Entidade de Umbanda não faz uso do álcool para embriagar seu médium, se isso ocorre é por conta do excesso, algo que deve ser vigiado pelos Cambonos, para que se evite acidentes vexatórios.
O álcool é um grande aliado nos trabalhos de Umbanda, seus benefícios são muitos, se ingeridos em pequenas doses, ou em doses suportáveis pelo organismo do médium. Sim, cada médium tem um limite que deve ser respeitado. Há inclusive aqueles médiuns que não podem fazer uso da bebida alcóolica, e isso é respeitado por sua Entidade, que passa a receber este elemento em seus assentamentos ou obrigações.
Sacralizada nos Terreiros de Umbanda, a bebida alcóolica deixa de ser profana para se fazer sagrada, e por conta disto, precisa ser manipulada com cuidado, responsabilidade e unicamente durante os ritos e rituais. Em alguns Terreiros, após o encerramento dos trabalhos espirituais, não mais é permitido o consumo de bebida alcóolica, salvo em ocasiões especiais e com número de pessoas limitado. Tudo no Terreiro, o que está dentro do Terreiro é sagrado. E aquilo que vem de fora do Terreiro, e passa a ser usado no Terreiro, é sacralizado: este é o fundamento. Ou seja, assim como os amigos se reúnem num bar ou num espaço para comemorar alguma conquista (a festa profana); o mesmo acontece dentro do Terreiro quando Entidades convidam os presentes para confraternizarem, falarem de seus problemas, de suas angústias e de suas conquistas (sacralização). Afinal, quanto mais próximo da realidade do dia-a-dia das pessoas, mais essas pessoas se sentem à vontade para falarem de si e de se libertarem de conceitos e pré-conceitos estabelecidos, que muitas das vezes são a causa de todos os problemas em suas vidas. Mas, para que esse rito tenha os resultados desejados, é necessário muito preparo, resposabilidades e cuidados. Caso contrário, tudo se transforma em uma grande algazarra, sem nenhum resultado positivo.
Bom senso e responsabilidade é a receita para uma vida próspera dentro e fora do Terreiro.
"TRABALHA QUEM PODE, BEBE E CANTA QUEM TEM JUÍZO" (frase copiada da dissertação sobre o uso de álcool nos rituais de Umbanda de Melina Souza Gomes- Universidade Federal do Ceará-https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/10498 ).
O TABACO: considerado desde sempre pelos nossos indígenas uma erva sagrada, o tabaco é usado em rituais de cura e para consumo. Lógico que não podemos confundir o uso do tabaco pelos indígenas, com os cigarros industrializados que trazem em suas composições centenas de substâncias altamente prejudiciais à saúde humana, onde o tabaco de fato, perde toda sua essência.
Como foi dito em relação a sacralização do álcool dentro dos Terreiros, o mesmo acontece com o tabaco, que passa a ser um poderoso instrumento de trabalho, promovendo limpezas energéticas e facilitando a comunicação entre as Entidades e os consulentes. Cada baforada de um charuto, um cachimbo ou até mesmo de um cigarro dado por uma Entidade, é carregado de histórias ancestrais e de poderosas vibrações, com o propósito de limpar e harmonizar os sentidos daquele que está à sua frente.
Ao contrário do que se pensa em relação ao uso do tabaco por Espíritos inferiores, o que de fato ocorre é o seguinte: na realidade, esses Espíritos não suportam o cheiro do tabaco na sua forma original ( folhas verdes ou secas), sendo portanto, viciados em cigarros, por conta da composição dos mesmos, que como já foi dito, possuem mais de 4.700 substâncias tóxicas que causam dependência e várias doenças graves. Vejam bem como uma Entidade trabalha para poder sacralizar um cigarro, já que hoje, os médiuns preferem fazer uso dos cigarros industrializados, ao uso de cigarros de palha e preparos de ervas e folha de tabaco.
O poder das folhas de fumo frescas ou em forma de fumo de rolo, se dá quando vemos uma pessoa que se sente carregada, tomar banho com essas folhas. A sua melhora é visível quase que imediatamente, quando passa a se sentir mais leve e animada. Sem contar do seu uso para auxiliar na cura das erisipelas e feridas na pele.
Prepare você mesmo o fumo do cachimbo de seu Preto-Velho ou Preta-Velha perguntando aos mesmos quais as ervas eles preferem. Isso vai dar muito mais firmeza nas incorporações e nos trabalhos de limpeza. São várias as ervas que podem ser usadas, entre elas: sálvia, alecrim, folha de café, folha de fumo, alfazema, aperta-ruão e tantas outras.
"Vovô eu peço a sua benção. Vovô lhe peço proteção. A fumaça do seu cachimbo, Vovô, faz bem pro nosso coração."
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