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SACUDIMENTO E BATE-FOLHAS NA UMBANDA.

Início do ritual  do Bate-Folha
Ritual de Bate-Folhas
Ritual do sacudimento
Ritual do sacudimento













Vários são os rituais de limpeza e descarrego usados na Umbanda, e entre eles se destacam o Bate-folhas e o Sacudimento. O primeiro, é mais simples, não requer grandes fundamentos, a não ser o devido conhecimento sobre o uso de ervas e folhas. Já o Sacudimento é um ritual mais complexo, pois serão usados materiais de várias ordens, considerando as necessidades daquele que passará por esse processo.

Bate-Folha: "sem folha não há Orixá", já diz um ditado milenar trazido pelos negros escravizados ao Brasil. De origem Banto (povos que viviam na América Central, onde hoje estão localizados a Angola, Congo, Cabinda e Gabão), este ritual consiste em preparar um amarrado de folhas devidamente colhidas e consagradas aos Orixás Oxóssi, Ossãe e aos Caboclos das Matas, esses últimos, responsáveis pelo aprimoramento dos saberes sobre folhas e ervas junto aos bantos escravizados que trocavam informações sobre o que conheciam na África e o que passaram a conhecer aqui, em terras brasileiras. Feito o amarrado de folhas, passa-se nos cantos da casa ou loja comercial, pedindo que o Povo das Matas limpe o ambiente e traga boas notícias, bons caminhos, boa saúde etc. Aqui, uma sugestão do amarrado de folhas para estes fins : guiné-pipiu, negamina, macaçá (catinga de mulata), abre-caminho, eucalipto, folhas de goiabeira e alfavacão. Tais ervas também podem ser usadas para o bate-folhas em uma pessoa, que esteja necessitando de uma limpeza e abertura de caminhos. No caso de um bate-folhas para saúde, pode-se usar as ervas: negamina, erva da Jurema, capim limão, canela de velho, pinhão roxo, peregum, umbaúba. No caso de não conseguir todas as folhas sugeridas, pode-se fazer o amarrado com as que conseguir, desde que seja três qualidades no mínimo. Após realizado o ritual, despachar o amarrado de folhas na beira de uma estrada ou se preferir, deixar secar num canto da casa, e depois de bem seco, colocar fogo, sem usar álcool, e as cinzas assopre na porta ou janela para o lado de fora, pedindo as bênçãos do Povo das Matas. Lembrando que, durante o ritual é bom que se cante pontos de Caboclos e faça saudações ao Povo das Matas.


Sacudimento: este ritual já não pode ser feito por uma pessoa leiga, pois se trata de um descarrego forte, quando outros meios não foram suficientes para livrar a pessoa ou ambiente das cargas negativas. Nele, são empregados vários elementos que vão desde do que a boca come (frutas, legumes, verduras, grãos, cereais) até pedaços de panos com cores específicas para o ritual, velas, e em alguns casos, o uso da fundanga. Este ritual tem todo um preparo antes de ser iniciado, pois cada detalhe fará toda diferença.

O sacudimento como o próprio nome já diz, serve para sacudir, movimentar, fazer tremer. Assim sendo, cada elemento vai agir em um determinado campo da pessoa ou ambiente, fazendo com que fique firme o que é bom e faz bem. Já, o que é ruim e faz mal , por não suportar o "sacode", se dispersa, enfraquece, se auto-destrói. O resultado de um sacudimento é percebido quase que imediatamente após o ritual, tão grande e poderoso é seu campo de atuação e descarrego. Mas, repito: só pode ser feito por alguém devidamente preparado, seja um Pai ou Mãe no Santo, ou alguém por eles indicado.



SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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