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Foto do escritorLuiz de Miranda

QUINTA-FEIRA: DIA DE LOUVAR OXÓSSI


OXÓSSI

O SENHOR DA ARTE DE VIVER


“Rei, Senhor da humanidade,

Nosso bom caçador,

Nós o chamamos para aprender a caçar e,

Acima de tudo, ir caçar e encontrar a caça.”


Oxóssi é o Orixá Caçador, Senhor das florestas. Divindade da fartura, da abundância e da prosperidade. Atualmente, o culto a Oxóssi está praticamente esquecido na África, mas é bastante difundido no Brasil, em Cuba e em outras partes da América onde a cultura ioruba prevaleceu. Isso se deve ao fato de a cidade de Kêtu, da qual era Rei, ter sido destruída quase por completo em meados do século XVIII, e seus habitantes, muitos consagrados a Oxóssi, terem sido vendidos como escravos no Brasil e nas Antilhas. Esse fato possibilitou o renascimento de Kêtu, não como Estado, mas como uma importante nação religiosa.

Oxóssi é a divinização da floresta, reinando sobre o verde e sobre os animais selvagens, dos quais é considerado o dono e dos quais tem todas as virtudes. Oxossi é sagaz como o leopardo, forte como o leão, leve como um pássaro, silencioso como um tigre, observador como a coruja, sabe se esconder como um tatu, é vaidoso como o pavão, corre como os coelhos, sobe em árvores como macaco, conhece os animais profundamente e com eles partilha o conhecimento da natureza. A Oxóssi são conferidos os títulos de Alakétu, Rei, senhor de Kêtu, e Oníìlé, o dono da Terra, pois na África cabia ao caçador descobrir o local ideal para instalar uma aldeia, tornando-se assim o primeiro ocupante do lugar, com autoridade sobre os futuros habitantes. É também chamado Olúaiyé ou Oní Aráaiyé, senhor da humanidade, que garante a fartura para seus descendentes. Está Nele o domínio da cultura sobre a natureza. Sempre muito observador aprendeu também os mistérios e poderes das plantas com Ossãe, Orixá dono dos poderes de cura das folhas, que certa vez o enfeitiçou, levando-o para o fundo da floresta a fim de ter companhia. Daí, ser comum evocar Oxóssi quando se quer encontrar remédios para certos males; embora seja necessário pedir a Ossãe que o remédio faça efeito.

Iemanjá, sua ciumenta mãe, enfurecida, mandou que Ogum fosse buscá-lo e o trouxesse de volta para casa. Obediente, Ogum atendeu o pedido de Iemanjá. Apesar de relutar, Oxosse volta ao lar, e ao se encontrar com Iemanjá, a desfeiteia, o que faz com que ela o proíba de viver dentro de casa, deixando-o ao relento.

Como havia prometido ao irmão ser seu companheiro, Ogum foi viver também do lado de fora de casa; e ao irmão ensinou novas artes da caça, dando-lhe as pontas das flechas forjadas em aço e depois a espingarda.

Na história da humanidade, Oxossi cumpre um papel civilizador importante, pois na condição de caçador representa as formas mais arcaicas de sobrevivência humana, a própria busca incessante do homem por mecanismos que lhe possibilitem se sobressair no espaço da natureza e impor sua marca no mundo desconhecido. A colheita e a caça são formas primitivas de busca de alimento, são os domínios de Oxossi, Orixá que representa aquilo que há de mais antigo na existência humana: a luta pela sobrevivência. Oxossi é o Orixá da fartura e da alimentação, aquele que aprende a dominar os perigos da mata e vai em busca da caça para alimentar a tribo. Mais do que isso, Oxossi representa o domínio da cultura (entendendo a flecha como um utensílio cultural, visto que adquire significados sócias, mágicos, religiosos) sobre a natureza.

Oxóssi tornou-se o melhor dos caçadores e diz o mito que foi ele quem livrou o reino de Ifé de um grande feitiço das perigosíssimas ajés (feiticeiras africanas) IYami Oshorongá, que se transformam em pássaro e atacam as pessoas e cidades com doenças e miséria. Tendo uma destas feiticeiras pousado sobre o palácio do Rei, e os demais caçadores do reino perdido todas as suas flechas tentando matá-la, Oxóssi com apenas uma, deu cabo do perigoso pássaro, tendo então sido conclamado o Rei de Ketu. Daí, os pedidos dirigidos a este Orixá no sentido de destruir feitiços ou energias maléficas. Suas características são a ligeireza, a astúcia, a sabedoria o jeito ardiloso para faturar sua caça. Astúcia, inteligência e cautela são atributos deste Orixá. Pois, como revela sua história, esse caçador possui uma única flecha, portanto, não pode errar a presa, e jamais erra. Oxossi é o melhor naquilo que faz, está permanentemente em busca da perfeição. É um orixá de contemplação, amante das artes e das coisas belas. Como todos os orixás, OXOSSI também está no dia a dia dos seres vivos, convivendo intimamente com todos nós. Dentro do culto ele é o caçador do Axé aquele que busca as coisas boas para uma Casa de Santo, aquele que caça as boas influencias e as energias positivas. Rege a lavoura, a agricultura, permitindo bom plantio e boa qualidade para todos. Está ligado as artes em geral: na pintura de um quadro, na confecção de uma escultura, na composição de uma música, nos passos de uma dança. Se encanta nas misturas de cores, na escrita de um poema ou de um romance, de uma crônica. Está presente no canto dos pássaros, das cigarras e dos homens. É pura arte. Seu encantamento está nas evoluções do revoar dos pequenos pássaros. Ao mesmo tempo que este Orixá é dinamismo e otimismo, é também comodidade, a vontade de vislumbrar, contemplar.

Histórias relacionadas a Oxossi o apontam como irmão de Ogum. Juntos, eles dominaram a floresta e levaram o homem à evolução. Além de irmão, Oxossi é grande amigo de Ogum – dizem até, que seria seu filho -, e onde está Ogum deve estar Oxossi, suas forças se completam e, unidas, são ainda mais imbatíveis.

Em seu ‘negativo’ Oxosse pode proporcionar falta de alimentos, plantio escasso, apodrecimento de frutas, falta de inspiração, melancolia e até mesmo a arte mal acabada ou de mau gosto.

O elemento Oxóssi é a terra e a liberdade de expressão, seu ponto mais marcante. Por isso, nosso sentimento de liberdade e alegria está profundamente ligado a ODÉ: O SENHOR DA ARTE DE VIVER.

Seus símbolos são o arco (ofá) e a flecha certeira (damatá). Possui também o erukeré, insígnia de dignidade dos reis da África, lembrando que é o Rei de Kêtu. O erukeré possui atributos mágicos; com ele o caçador comanda os Espíritos da floresta. Os chifres, símbolos de virilidade e procriação, em especial os de boi, também lhe são atribuídos.

Oxóssi é um Orixá rígido, que se magoa com pequenas coisas, se contraria facilmente, é um Orixá tão honesto que chega a ser constrangedor. Oxossi não admite falhas no cumprimento de suas obrigações, jamais perdoa.

Oxóssi é a longa estrada, que termina numa grande mata. Representa a continuidade, o desenvolvimento da natureza. Oxóssi é a busca incessante do homem, mas este se perde no tempo, enquanto Oxóssi continua na construção da civilização.

Rei, Senhor da humanidade!

Caçador que caminha só

Sob o clarão da lua cheia.

Filho da floresta,

Pai de todas as folhas

Oh Caçador! Guardião do povo!

Proteja sua gente,

Proteja nossa fé.

Zele pela dignidade da Casa Real de Kêtu

Pela perpetuação do seu reino.

Oké Aró!


Domínios de Oxossi:

A caça predatória é condenada por Oxossi. Os animais só devem ser derrubados para servir de alimento aos homens e aos deuses. Oxossi protege os caçadores e os animais (a caça), pois ambos são seres do mesmo espaço: a floresta. Sem motivo, Oxossi não admite a matança de animais, principalmente do boi (malu). O eran malu é sagrado para Oxossi. Quem abate um boi com crueldade nunca contará com a proteção desse Orixá. Jamais terá boa sorte.

É preciso que o homem compreenda que existe uma força na floresta, que habita as folhas, as raízes, o rastro dos animais e se chama Oxossi. O homem precisa aprender que os Orixás são as forças vivas da natureza, não são crendices populares, nem folclore. É necessário que o ser humano se conscientize de que a destruição da natureza é a sua própria destruição. De que o destruidor do homem é o homem: predador de si mesmo.

Oxossi é a própria sabedoria da natureza, que tirou do homem garras e presas, mas deu a ele a inteligência para criar flechas e lanças e assim se impor sobre o mundo selvagem. O homem é, na verdade, um animal indefeso, frágil, que encontra nas formas arcaicas de organização o segredo de sua existência.

Coube ao caçador descobrir o local ideal para a aldeia, protegê-la e garantir seu sustento. Oxossi, o Grande Caçador, graças a sua flecha que sempre fere, sobressaiu-se na floresta, impôs o seu poder e tornou-se seu rei, destemido oníìlé, o dono da Terra.

Saudação a Oxossi: Okê Arô


ORAÇÃO A OXOSSI


Eu procuro e não acho, a flecha me aponta o destino. É o Caçador dos Céus que me ronda. É Kabila Ode Wawá que me sonda. Sua flecha contempla o tempo, a prosperidade e a abundância. Seu braço segura o arco da provisão, do combate e da determinação. Meu Senhor da terra, da minha roça, do vilarejo e da minha casa, que sua flecha seja tão ligeira ao me trazer as coisas belas. Meu poderoso Senhor da Falange da Matas, que me traz os boiadeiros, caboclos e baianos. Meu poderoso Senhor Irmão das Folhas, que me traz a cura e a minha visão, seja piedoso em minha vida, com meu coração. Seja benevolente em minha subsistência, em minha vida e na minha paixão. Que a noite ao me deitar, eu possa ter a certeza de que o Senhor Caçador Noturno, está a me guardar.

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          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

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            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

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                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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