Faz parte dos fundamentos das religiões afro-brasileiras alguns interditos impostos aos seus seguidores, tanto na Umbanda como no Candomblé. Interditos são proibições que partem desde a alimentação, até cores de roupa; baseados, claro, nos estudos de seus odus (caminhos, destinos, signos); na intenção de garantir proteção e prosperidade aos seus seguidores. Tal comportamento é muito mais evidente no Candomblé; pois na Umbanda, só algumas Casas mais ligadas a mitologia dos Orixás, aplicam essa prática.
Essas proibições são chamadas de quizilas, aquilo que traz desordem, prejuízos, confusões e atritos. Para evitar a quizila é necessário se afastar de tudo aquilo que o Orixá não gosta, não come e não veste. É uma forma de proteger os filhos contra as coisas que podem lhes fazer mal. Aqui, por exemplo, vamos falar de uma das quizilas de Ogum: o quiabo.
“Você sabe porque Ogum não gosta de quiabo? Foi por causa de uma contenda dele com Xangô. Xangô era muito ambicioso por status, principalmente pelo título de rei, por se sentar no trono de um reinado. Foi o que aconteceu com a cidade de Oyó. Xangô estava para entrar em Oyó, com a sua comitiva, quando avisaram Ogum. O povo pediu a sua ajuda pois ele era um grande guerreiro, e Ogum não se negou.Mas, como em tudo existe falsidade, a notícia de que Ogum estava contra Xangô vazou. Xangô, sabendo, tomou as suas atitudes. Ele tramou uma cilada para Ogum. Mandou comprar muito quiabo em todas as aldeias e mandou picar. Fez uma pasta com o quiabo. Pelo lado em que ele ia atacar a cidade tinha uma ladeira. O que ele fez? Mandou espalhar que o ataque era naquele dia. Aí mandou espalhar o quiabo ladeira abaixo. Já viu como ficou né? Ninguém se segurava. Escorregavam todos ladeira abaixo. Foi assim que, quando Ogum apareceu no caminho, pensando que ia vencer Xangô, todos os seus cavaleiros, até mesmo ele, desceram ladeira abaixo e os seus cavalos quebravam as pernas. Assim Xangô tomou posse da cidade de Oyó e a comandou por todo um século.” ( lenda extraída do Livro Caroço de dendê, de Mãe Beata de Yemonjá)
Em respeito a este itan (lenda, história), o filho de Ogum deve evitar o quiabo, que pode lhe trazer desânimo, baixa auto-estima, sentimento de perda, melancolia, insegurança e outros sentimentos negativos. Afinal, essa é uma das poucas batalhas que Ogum perdeu, e sempre pra Xangô. Não à toa, são irmãos que vivem sempre brigando. E quando brigam, é para deixar claro os limites impostos tanto a um, quanto ao outro.
Aqui neste Itan, vê-se Ogum atendendo a um pedido do povo, e não se preocupa em investigar o porquê, de fato, Xangô está indo para tomar o trono, que aliás, era seu de direito. Já Xangô, se deixa levar por fofocas e falsidades, não se permitindo a ter uma conversa com o irmão Ogum.
Conclui-se então, que devemos sempre buscar a diplomacia, o diálogo, a verdade dos fatos, antes de tomarmos atitudes mais drásticas.
Ogum e Xangô estarão sempre a nos trazer os ensinamentos que precisamos para o equilíbrio de nossas emoções e sentimentos, como também reconhecermos nossos limites físicos e emocionais.
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