A Umbanda é uma religião que tem nos símbolos, elementos fundamentais para a realização de seus trabalhos. Tudo na Umbanda tem um porquê, uma explicação, uma razão de ser, e essa razão de ser, é facilitar ou até mesmo provocar a ligação de seus médiuns com o plano espiritual.
Cada Entidade tem sua particularidade, sua individualidade, sua assinatura; e isso se manifesta não só no seu comportamento enquanto incorporada, mas como também através de seus pontos riscados.
Existem desde sempre livros contendo inúmeros pontos riscados, que são atribuídos a essa ou aquela Entidade, o que nós, dentro da doutrina da nossa Casa, não concordamos. Nesses livros, por exemplo, vamos ver um determinado ponto riscado ao Caboclo Aymoré, dando a entender que todos os Caboclos Aymoré, devem seguir àquela ‘grafia’, o que não se encaixa dentro do nosso aprendizado, onde sabemos que um Caboclo Aymoré incorporado em um médium irá usar um determinado ponto riscado diferente do Caboclo Aymoré em outro médium. Isso se dá, por sabermos que não existe apenas um Cabocolo Aymoré, e sim, uma falange, e dentro dessa falange cada Entidade terá sua própria “assinatura”, que o fará ser reconhecido pela Mesa Dirigente da Casa e onde ela (a Entidade) firmará seu axé na Gira que está sendo realizada.
O ponto riscado é um elo poderoso de ligação entre o trabalho que está sendo realizado e a invocação das forças espirituais para que esse trabalho alcance seu objetivo. Neste caso, se enquadram os pontos de descarrego, limpeza, firmeza e corte de demandas.
Já os pontos riscados de identificação, são usados pelas Entidades para que seu axé seja materializado e sua identidade seja reconhecida e confirmada. Neste caso, os médiuns podem inclusive copiar o ponto e usá-lo para quando quiserem entrar numa sintonia mais intensa com sua Entidade.
Para uma Entidade conseguir riscar o seu ponto requer tempo e um bom desenvolvimento da mediunidade. É algo que acontece naturalmente, onde o médium não deve ficar ansioso ou na obrigação em ter que cumprir essa etapa. Há médiuns inclusive, que apesar de anos de desenvolvimento, suas Entidades ainda não realizaram esse ritual. O que não quer dizer que esse médium não está suficientemente desenvolvido ou não tenha a devida firmeza para tal. É simplesmente a Entidade aguardando o tempo certo, para que possa riscar seu ponto sem nenhuma interferência. Interferência que se dá, por vezes, pela insegurança ou desconhecimento dos símbolos da Umbanda, pelo médium incorporado.
Lembramos aqui, que além dos símbolos já conhecidos, também existem ‘riscos’ indecifráveis aos nossos olhos e entendimentos, onde as Entidades então, garantem a segurança plena do seu ponto riscado.
Para que as Entidades possam riscar o seu ponto, é utilizada a Pemba, um elemento considerado sagrado por nós Umbandistas. A pemba é um giz de forma arredondada, confeccionada calcário, banha de ori, ervas e sementes ( cada uma de acordo com a vibração de um Orixá).
Vamos então conhecer o significado de alguns símbolos usados por nossas Entidades quando riscam seus pontos.
Círculo: o todo, o universo. Quando usado em volta de todo o ponto riscado, significa que a Entidade está limitando a energia a um determinado espaço de tempo, pedindo que o ponto só seja apagado depois de alguns dias.
Flecha: símbolo dos Caboclos.
Seta: quando apontada pra cima, busca do axé. Quando apontada pra baixo, busca do equilíbrio.
Espiral: quando para fora, retirando demandas. Quando para dentro, chamando energias positivas, autoconhecimento , trazendo clareza. Símbolo associado a Iansã, Boiadeiro e Exu.
Estrela de seis pontas: equilíbrio entre o material e espiritual. Sabedoria.
Estrela de cinco pontas (Estrela de Davi): a busca pela evolução. Estrela guia. Muitas vezes associada aos Pretos Velhos.
Triângulo: fé, amor e caridade. Equilíbrio pleno entre as forças espirituais e materiais. Conquista.
Espada: defesa, ordem, disciplina, corte de demandas. Associada a Ogum.
Alfange ou sabre: símbolo associado a Iansã.
Cruz com pedestal: vitória sobre a morte. Cura de doenças. Símbolo associado a Omulu/Obaluaiê.
Cruz comum: vitória sobre a morte. Espiritualidade, tenacidade, capacidade de resistir. Símbolo associado a Oxalá.
Tridente (arredondado): princípio feminino. A busca pelo equilíbrio: corpo, alma e espírito. Associado as Pombas Giras. Ainda, à sexualidade, fecundação e criação.
Tridente (retos): princípio masculino. Mesma definição do arredondado. Associado aos Exus. Também representando a virilidade, a força e conquistas.
Coração com uma cruz dentro: a esperança, a calma, a fé inabalável. Símbolo associado a Nanã Buruquê.
Machado de duas lâminas (oxé): a justiça, o equilíbrio. Símbolo associado a Xangô.
Coração com ondas na vertical: a busca pelo equilíbrio no amor e nas conquistas. Símbolo associado a Oxum.
Folhas de palmeiras: a busca pela cura e pela espiritualidade. Proteção e segurança.
Jogo da velha: busca pela vitória. Usado para livrar-se de perturbações espirituais e materiais.
Estrela cadente com ondas: bênçãos para uma nova vida. Proteção de Mãe Iemanjá.
Ressaltamos aqui, que essas explicações podem variar de acordo com cada Entidade e a que elas estão se dispondo a realizar. Não havendo portanto, uma verdade absoluta. Até porque, na Umbanda, só há uma verdade absoluta: "a manifestação do Espírito para a prática da caridade."
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