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PADÊ: a cerimônia para Exu

Foto do preparo de um padê para Exu

Padê, é uma cerimônia onde se fazem oferendas ao Orixá Exu, no Candomblé, e é realizada antes de qualquer obrigação dentro do Barracão. Nessa cerimônia são oferecidas comidas, bebidas votivas, animais e tudo mais que agrada ao Orixá Exu.

Seu nome tem origem no idioma yorubá, uma língua africana falada na Nigéria, e é derivada da palavra ipàdé, que significa reunião.

Essa cerimônia na Umbanda, é conhecida como "despachar Exu", Exu aqui neste caso, os chamados "catiços", termo que surge na Quimbanda para diferenciar Exu Orixá de Exu Entidade. Nesse entendimento, a designação de catiço ou castiço refere-se àquele que é casto, que não se deixou contaminar por outras linhagens, mantendo-se firme e leal às suas raízes africanas, mesmo tendo nascido ou batizado no Brasil. É o corpo preto garantindo e impondo sua existência através da teimosia, do deboche, da dança que mata e que salva. Catiço: aquele que não se deixa dominar.

A farofa de Exu, que é usada para o Despacho de Exu (ato de pedir licença) nos Terreiros de Umbanda, pode ser feita de várias formas e com vários elementos:

Fubá: os bantos ou bantus (povos escravizados da região de Angola, Congo, Cabinda, Moçambique) que trouxeram esse nome para o Brasil, que significa 'farinha'. Dependendo em que contexto, ou seja, de que forma será usado, o fubá pode representar a prosperidade, como também pode servir para limpeza e fertilidade. Afinal, o milho é fonte de nutrientes essenciais ao desenvolvimento de homens e animais. Daí, uma farofa feita com fubá, tem a capacidade condensar, manter, segurar, fortalecer a energia que está sendo desprendida por quem oferece a farofa. E esse é o cuidado que devemos ter: saber o que pedir e pensar, pois naqueles momentos que partem do preparo até a entrega, tudo está sendo ouvido e preparado para ser realizado.

Farinha de mandioca: feita de uma raiz, em alguns lugares chamada de aipim. Os povos originários do Brasil cultivam essa raiz há pelos menos nove mil anos, e a consideram um alimento sagrado. Logo, então, se vê a utilidade da farinha de mandioca na farofa de Exu: limpeza, descarrego, abertura de caminhos, defesa e trabalhos de cura.

Fubá com azeite de dendê (epò): tem a finalidade de trazer força e prosperidade para o Terreiro. Aquece Exu, fazendo com que suas vibrações sejam mais constantes e firmes, dando proteção e segurança aos trabalhos.

Farinha de mandioca com marafo ou oti (cachaça): abertura de caminhos, limpeza e descarrego.

Farinha de mandioca com água (omi): usado para afastar negatividades, fofocas e confusões.

Farinha de mandioca com mel (oyin) ou açúcar cristal : usado para adoçar, acalmar, trazer paz e harmonia.

Dependendo da finalidade da farofa de Exu/Pombagira, usa-se mais elementos para complementar, como por exemplo: cebola branca ou roxa (a depender do gosto do Exu), bife de carne de boi (dinheiro, prosperidade, vigor físico e força espiritual), fígado (quebrar feitiços e inveja), bife de porco (saúde), pimenta vermelha (traz vigor e energias positivas), frutas para Exu/Pombagira como limão, cana de açúcar, manga, uvas escuras entre outras.

Lembre-se sempre: antes do preparo da farofa de Exu/Pombagira, consulte seu Pai ou Mãe de Santo.


SUA FÉ É RESPEITADA?

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          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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