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Foto do escritorLuiz de Miranda

OS CABOCLOS DE UMBANDA

Atualizado: 20 de out.


Retrato dop Caboclo Tupinambá

Os Caboclos na Umbanda são considerados Espíritos de muita luz. É importante saber que nem todos os Caboclos foram necessariamente índígenas. Há entre Eles muitos mestiços, que por esta condição, não eram aceitos em seu núcleo familiar, sendo sempre tratados com desprezo e descaso. Ao atingirem uma idade que lhes permitia trabalhar, saíam um busca de seu sustento, sendo empregados em fazendas, sítios, e pequenas plantações. Temos ainda aqueles que ocupavam um pedaço de terra e nela preparavam sua roça e dela sobreviviam, sempre próximo as matas, onde tudo aprenderam sobre as ervas, folhas e raízes e ainda sobre os costumes e rituais indígenas. Hoje, esses Caboclos trabalham arduamente como Guias espirituais nos Terreiros de Umbanda. Desta forma representam uma raça que sempre defendeu as maiores riquezas do nosso país. Sob orientação de seus superiores, têm a responsabilidade de proteger a nossa flora e fauna. Vivem nas matas, cachoeiras, rios e mares, onde costumeiramente recebem suas oferendas. Trazem-nos a ciência das ervas, dos passes, dos pontos riscados, das velas e dos Elementais (seres que habitam nos quatro elementos: água-ondinas, terra-gnomos, ar-silfos e fogo-salamandras). Aliás, o uso de ervas é fundamental numa Gira de Caboclo, assim como também, o charuto e a macaia (bebida a base de ervas; no entanto, geralmente nos Terreiros, lhe são servidos vinhos tinto ou moscatel). Com o charuto, ele manipula o ar, dando passes e renovando a aura do consulente; pois a fumaça para os índios sempre teve grande significado místico; sempre foi uma forma de se comunicar com os deuses e com tribos distantes.

Com a bebida, ele desinfeta o corpo do médium, produzindo através do passe, as energias necessárias para o relaxamento e bem estar do consulente. O uso de bebida alcoólica nas Giras de Caboclo deve ser supervisionado pelos Cambonos, a fim de evitar excessos e consequentemente prejudicar o desenvolvimento mediúnico.

Em sua maioria, os Caboclos são pacíficos, objetivos, desconfiados e têm por missão zelar pela organização e boa conduta dentro dos Terreiros e fora dele. São eles que inspiram aos homens o interesse em novas pesquisas, movimentando o meio médico-científico para a descoberta da cura de doenças que castigam a humanidade.

Gostam de pessoas ativas e determinadas, inspirando sempre a paciência e organização.

Suas manifestações através dos médiuns, podem por vezes parecer arrogantes. Mas na realidade, tal impressão decorre do profundo conhecimento que essas Entidades possuem em relação ao povo que pertenceram. Donos de uma cultura nativa milenar conseguiram resistir ao tempo e a escravidão.

Muitos dos Caboclos que incorporam em nosso meio, são considerados ‘encantados’, ou seja: espíritos que nunca encarnaram e que podem tomar a forma que desejam para entrar em contato mais direto com os homens. Trazem os ensinamentos necessários para se manter vivo o culto a natureza e suas manifestações, assegurando desta forma, o equilíbrio vital para a sobrevivência de homens e animais em nosso planeta.

As oferendas aos Caboclos são feitas basicamente com frutas, coco, milho, mel, vinho moscatel ou tinto, azeite de oliva, gengibre, cravo da Índia, canela, açúcar cristal, açúcar mascavo e noz moscada.

A gengibirra é sua bebida predileta: 120 gr. De gengibre, 250 gr. Creme de tártaro, 10 l. de água fervente, 3 kg. de açúcar, 8 colheres de levedura de cerveja, 1 clara batida em neve.


Modo de preparar: Rale o gengibre e misture no creme de tártaro, acrescente a água e leve ao fogo para ferver. Depois de fervida a água; junte o açúcar, misture e tire do fogo. Quando estiver quase frio, acrescente a levedura de cerveja e a clara batida em neve. Deixe descansar por 12 horas para fermentar, filtre e engarrafe.

O verde é a cor preferida dos Caboclos, podendo se usar também o amarelo, o azul e o vermelho. Tudo vai depender da qualidade e fundamento dessas Entidades.

Suas guias são confeccionadas com miçangas ou contas leitosas, olho de Caboclo (fava), penas de pássaros, pontos de aço (arco e flecha, estrela, lua, sol, etc.). Tudo obedecendo sempre o gosto da Entidade.

A saudação aos Caboclos é Okê Caboclo!


OS CABOCLOS E SUAS INFLUÊNCIAS EM NOSSAS VIDAS


CABOCLO 7 PENAS: Ajuda no desenvolvimento mediúnico, orientando e esclarecendo sobre a espiritualidade.


CABOCLO COBRA CORAL: Tem como objetivo alcançar a cura e o bem estar dos filhos através de passes e banhos de ervas. Protege contra traições e inveja.


CABOCLA JUSSARA: Falangeira da Cabocla Jurema. Trabalha a intuição e cautela.


CABOCLO ROMPE-MATO: Abre caminhos e trabalha a ousadia, a coragem nos médiuns. É rígido e compenetrado em suas obrigações. Protege contra a falta de concentração.


CABOCLO TUPINAMBÁ: É chefe de falange. Ligado a Tupi, um dos nomes mais respeitados na hierarquia dos Caboclos. Ajuda a manter a ordem e a disciplina.


CABOCLA JUPIRA: Ligada as águas doces dos rios e lagos. Tem como missão, ajudar seus filhos a conquistar seus lugares no mundo.


CABOCLO 7 FLECHAS: Guerreiro das matas. Conhecedor profundo de ervas e folhas. Ajuda a resolver problemas urgentes.


ARRANCA-TOCO: Caboclo chefe de falange. Um dos Caboclos mais antigos da Umbanda. Trabalha a determinação e a firmeza em seus filhos. Protege contra falências e dificuldades financeiras.


CABOCLA IRACEMA: Cabocla encantada. Ora pássaro, ora caçadora. Tem como missão ajudar seus filhos a agir com segurança e sempre no momento certo. Ajuda a resolver problemas de ansiedade e dúvidas em geral.


CABOCLA JACIARA: Cabocla ligada aos montes e vales. Guerreira e desbravadora de novos caminhos. Protege contra a preguiça e o desânimo; ajudando seus filhos em novas conquistas.


CABOCLA JUREMA DA PRAIA: Falangeira da Cabocla Jurema. Atua nos limites do mar e rio, onde trabalha pela segurança e equilíbrio na vida de seus filhos. Protege contra o medo, insônia e problemas neurológicos.


CABOCLO VENTANIA: Caboclo ligado as folhas. Conhecedor dos axés que asseguram a lei da sobrevivência na natureza, estimulando o processo de transformação. Ajuda nas conquistas profissionais e amorosas. É extremamente hábil para desfazer maus entendidos e fofocas.


CABOCLA JUREMA DAS MATAS: Falangeira da Cabocla Jurema. Senhora maior das matas. Mãe das falanges das Caboclas. Tem como missão acalentar e defender seus filhos contra os males materiais e morais. Ajuda na criação de filhos e na tranquilidade do casamento. Benzedeira.


CABOCLO AIMORÉ: Chefe de falange. Conhecedor dos segredos das matas. Representante fiel de Oxosse. Ajuda na intuição e na conquista de alimentos para nossa sobrevivência. Traz boa sorte e sucesso.


CABOCLA IARA: Cabocla ligada às cachoeiras e rios. Encantada, ora Cabocla, ora deusa. Está no limite das águas com a terra. Ajuda a ter prudência. Protege contra falsidade.


CABOCLO TREME-TERRA: Conhecedor de feitiços e encantamentos. Protege contra trabalhos de amarração. Está ligado aos conflitos sociais, no sentido de assegurar a igualdade e a responsabilidade.


CABOCLO PENA BRANCA: Caboclo ligado a Oxalá. Influencia na busca pela tolerância, paciência e equilíbrio. Protege contra prisões e armadilhas.


CABOCLO ROXO: Conselheiro e austero. Amante da ordem e da hierarquia. Protege contra vícios e timidez.


CABOCLO PENA VERDE: Orientador e conselheiro. Protege contra ansiedade e depressão.


CABOCLO GIRA-MUNDO: Caboclo responsável pela doutrina e encaminhamento de obsessores. Protege contra histeria e nervosismo. Guardião dos limites entre os planos astral e material.


CABOCLO CAÇADOR: Caboclo que zela pela guarda e proteção da Casa. Garantem o sustento e a ordem na comunidade que trabalham. Estão sempre estimulando a busca de soluções e novos conhecimentos.


ERVAS PARA OS CABOCLOS: abre caminho, erva da jurema, guiné pipiu, folha de fumo, cipó caboclo, samambaia, folha do limão cravo, alecrim...



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            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

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                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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