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Foto do escritorLuiz de Miranda

OS BOIADEIROS NA UMBANDA

Atualizado: 16 de mar.




Os Boiadeiros são tidos na Umbanda como Espíritos de vaqueiros, trabalhadores rurais, filhos geralmente de brancos e índios (mestiços), que formavam a grande massa da população brasileira. O trabalhador do campo, o matuto que morava nas regiões rurais mais remotas do nosso país, quando ainda não se tinha essa formação em Estados, mas sim, em capitanias,daí entender-se que nem todo Mineiro ou Boiadeiro, são efetivamente do Estado de Minas, que hoje se conhece. O Mineiros, Entidades que trabalham muito próximas dos Boiadeiros, têm sua origem nos trabalhos braçais nas minas de ouro, em várias regiões do país. Alcançaram a condição de Guias Espirituais graças as suas vastas experiências de vida. Trabalham nos Terreiros nas funções de guardiões contra as demandas e interferência de Quiumbas (Espíritos trevosos), os quais tratam com alto rigor e austeridade. O mesmo comportamento não se nota quando nas suas incorporações ao lidar com os filhos de fé. Em relação a estes, procuram sempre trazer muita alegria e descontração, e, desta forma, fazem seu trabalho de descarga e limpeza material e espiritual.

É uma linha poderosa e muito numerosa no panteão umbandista. Atuam nas Sete Linhas da Umbanda na defesa dos axés e fundamentos das Casas de Santo.

As Giras feitas em louvor a estas entidades têm uma alegria e vigor, típicos da energia que trazem para os Terreiros. Gostam de dançar, beber e fumar charutos ou cigarros de palha. Não há dúvidas de que tudo isto é a exteriorização cultural de um mundo alegre e farto, seja material ou espiritual. Esta alegria presente nas danças e pontos cantados e nas suas oferendas, são a demonstração de uma segurança na fartura espiritual do mundo do qual procedem.

O símbolo dos Boiadeiros é o laço e o chicote. Quando incorporados gostam de usar chapéu de vaqueiro e gibão, caracterizando desta forma a espontaneidade dos homens simples do sertão.

Sua saudação é Jetuá ou xêtro marrumbaxetro! (Salve aquele que possui braço forte). Ou ainda, aqui reverenciando os mineiros, a saudação é: ê Minas!


Oferendas:

MOCOTÓ DE BOIADEIRO

Ingredientes: 1 mocotó cortado, 8 dentes de alho socados, 2 cebolas picadas,pimenta malagueta à gosto, sal, 4 folhas grandes de louro, 2 colheres de sopa de azeite de oliva , 1 colher de sopa de azeite de dendê, 4 colheres de sopa 1 pimentão pequeno picado, 4 tomates grandes sem casca e semente, picados, salsinha à gosto.

Modo de preparar: Escalde o mocotó com água, sal e folhas de louro; reserve 2 conchas do escalde, o restante da água jogue fora. Doure um pouco o alho, acrescente o mocotó e o restante dos temperos. Acrescente as 2 conchas do escalde e mais água para o cozimento. Deixe cozinhar por 1 hora. Sirva em alguidar com farofa.


FAROFA DE BOIADEIRO

Ingredientes: 1 quilo de farinha, 1 molhe de couve picada à mineira, ½ quilo de toucinho de fumeiro salgado( deixar de molho por 12 horas para retirar o excesso de sal) ou bacon, 3 dentes de alho e 1 cebola picada.

Modo de preparar: Pique o toucinho e coloque-o para fritar até liberar bastante gordura. Frite o alho e a cebola. Acrescente a farinha e por último a couve.

Sirva com meladinha (cachaça com mel), vinho ou a bebida preferida do seu Boiadeiro.

Esta oferenda pode ser entregue num a porteira, do lado direito de quem entra. Ou embaixo de uma árvore.


FOLHAS CONSAGRADAS AOS BOIADEIROS/MINEIROS:

Folhas de mangueira (qualquer uma), catinga de mulata, erva da Jurema, folha de bambu, gravatá, espada de São Jorge, Espada de Iansã.


Geralmente os pedidos direcionados a esta Entidade, estão relacionados a melhoria profissional, livrar-se do desânimo e depressão.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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