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Foto do escritorLuiz de Miranda

OS ANIMAIS E OS ORIXÁS

Ilustração de animais dos Orixás

Todo Umbandista sabe que a sua religião é a natureza. Logo, tem consciência de que tudo que está na natureza, está na Umbanda, e nela, se realizam os cultos que expressam bem sua ligação com as matas (Oxóssi e Caboclos), os rios (Oxum), o mar (Iemanjá), os ventos e tempestades (Iansã), as pedreiras, trovões e raios (Xangô), a terra (Omolu), as estradas (Ogum), as encruzilhadas (Exu), os pântanos (Nanã Buruquê), o ar que respiramos (Oxalá).

                A relação da Umbanda com os animais, não é diferente: cada Orixá tem sua representação ou até mesmo sua extensão, em um ou mais animais, fazendo com que esses seres sejam sagrados para eles e para seus filhos. E não é difícil entender esse comportamento, considerando que desde sempre os animais tiveram e têm grandes representações em várias culturas. Aqui, nos lembramos da afeição e forte ligação que Jesus Cristo tinha com as ovelhas, fazendo com que seus seguidores tomassem esses animais como símbolo do cristianismo, da esperança e do consolo. Na Índia, a vaca é um animal sagrado, pois é considerada um presente da Mãe Divina, e que traz alimentos e fartura para seu povo: o leite, manteiga, queijo e coalhada. Na Tailândia, sudeste asiático, o elefante é símbolo de prosperidade, sabedoria e força, consagrado ao Deus Ganesh. E por aí vai...

                Quando se diz que um determinado animal pertence a um Orixá, quer se dizer que esse animal carrega consigo os instintos primitivos daquele Orixá e de seus filhos, como veremos a seguir:

                Exu: bode - portador de força, resistência e coragem. Estimula a necessidade da autoconfiança para enfrentar as dificuldades do dia a dia, superando obstáculos. São animais de grande vigor e energia). Galo: é o que toma conta, o primeiro que anuncia a chegada de um novo dia. O que dá o alerta. Força, proteção e coragem. Exu divide esse animal também com Ogum.

                Pombagira: gato - sensibilidade e proteção espiritual. Barreira contra energias negativas do ambiente e de pessoas onde se encontram.

              Ogum: cachorro – lealdade, fidelidade e proteção. Bem treinados, são guardiões implacáveis. Sem contar, o serviço que prestam a sociedade através da Polícia, descobrindo drogas, objetos e encontrando pessoas. Cavalo – É um animal que está sempre alerta a qualquer ameaça. Ninguém controla um cavalo em fúria.

         Oxóssi: pavão – territorialista, quando sente que seu território está sendo invadido, luta com o invasor até expulsá-lo. Caso perca a luta, abandona e procura logo outro território. Os machos usam da exuberância de suas caldas, que se transformam em grandes leques coloridos, para conquistar as fêmeas. Enquanto animal de poder, traz a mensagem da transmutação e sabedoria para conquistar novos caminhos, com serenidade e beleza. Periquitos selvagens – animais que não vivem sozinhos, no entanto, são extremamente exigentes na hora de escolher seu par. Quando em bando, é fácil notar as várias personalidades desses animais. É por isso que quando levados ao cativeiro para procriarem, nem sempre aceitam o par que lhes foi imposto. São animais que transmitem alegria, deslumbre e poesia. Coelho – brincalhão e inteligente. Se estressa com facilidade. Tem hábitos noturnos. Silenciosos, mas quando irritados ou machucados, emitem sons bastante estridentes. Enquanto animal de poder, significa abundância e prosperidade.

       Xangô: cágado – estabilidade, organização, longevidade, honra, paciência, sabedoria e determinação. Leão – nobreza, força e coragem. Equilíbrio, lealdade, autoconfiança, potência sexual, liderança. Falcão – realeza, destreza, o que voa mais alto. Proteção e orientação.

            Omolu: cachorro – é grande a ligação deste Orixá com o cachorro, considerando um itan onde Omolu e seu cachorro que sempre o acompanhava, foi seu alento quando estava nas matas muito ferido e só as lambidas do animal acalmavam a dor que sentia. Até que num amanhecer, Omolu percebeu que estava completamente curado.

                Iemanjá: pata branca – animal que faz de tudo um pouco, mas nem sempre com perfeição. E está aí a lição que nos dá: nada é perfeito, pois feito, é melhor do que perfeito. Sua capacidade de adaptação é incrível: voam, nadam e andam. Sendo assim, ele representa o movimento, a mudança. Peixe – representa a fertilidade, abundância, capacidade de superar obstáculos, harmonia e renovação. Cegonha – simboliza o nascimento, o cuidado. Inclusive, sabe-se que essa ave tem por costume cuidar de seus mais velhos, e são extremamente devotadas aos seus filhotes. Enquanto destruidora de serpentes, é considerada uma inimiga poderosa do mal.

             Iansã: búfalo – representa a força do trabalho, resistência, atrevimento, coragem. Um animal considerado por algumas tribos como o animal mais sagrado, guardião dos segredos ancestrais. Borboleta - simboliza a transformação, liberdade, felicidade, inconstância. Uma das curiosidades sobre as borboletas, é que elas têm pequenos olhos em grande quantidade, que lhes favorecem uma super visão. É dito ainda, que as borboletas enxergam os raios ultravioletas.

                Oxum: canário – canto melodioso, beleza, esguios e elegantes. O canário belga inclusive, é muito curioso e inteligente, capaz de memorizar truques e impressionar, como brincar com bolinhas e ir sempre em direção ao seu tutor. Galinha da Angola (etun ou konkém) – animal sagrado na teologia dos Orixás, aquela que traz no alto de sua cabeça, o grande axé(osù). São muito organizadas, cada grupo tem seu líder, que é facilmente identificado na hora da alimentação, pois o mesmo, fica de prontidão enquanto as demais se alimentam, só indo à refeição depois de ter a certeza de que todas se alimentaram. Quando se sentem ameaçadas fazem muito barulho, com isso afugentam seus predadores, que preferem as presas mais silenciosas. Pomba – de acordo com um itan, Xangô por ciúmes, aprisionou Oxum numa torre do seu castelo. Certo dia, Exu passava pelos arredores, quando ouviu o choro da Orixá, e logo levou o acontecido a Orumilá, que preparou um pó e pediu que Exu assoprasse em direção a torre do castelo. Exu assim o fez, e Oxum se transformou numa pomba, conseguindo escapar pelas grades da janela da torre. Desde então, a pomba passou a ser um animal sagrado para os filhos de Oxum.

                Nanã Buruquê: coruja – símbolo da inteligência e sabedoria. Aquela que enxerga além da escuridão da noite, revelando seus mistérios e segredos. Uma visão extraordinária e precisa; além de ouvidos muito apurados, capazes de ouvirem suas presas a um quilômetro de distância. Símbolo das bruxas e feiticeiras, a mais velha das mães ancestrais. As fêmeas são mais pesadas e agressivas que os machos. Paleontólogos possuem documentações de fósseis com mais de 24 milhões de anos. Rã – a ciência mística associa a rã, à relação entre a vida e a morte, renascimento, renovação. Por habitarem ambientes aquáticos, as rãs trazem consigo o simbolismo da purificação e da cura. São capazes de desbloquear energias do corpo e do espírito. Sem esquecer que sua carne é de grande valor nutritivo, auxiliando na cura de inúmeras doenças. Uma das grandes curiosidades sobre a rã, é sua capacidade de mudar de sexo, de acordo com estudos realizados em lagoas de diferentes países. Ou seja: sexo para as rãs, vai depender de como ela irá se adaptar(https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2019/04/ras-sapo-anfibio-perereca-lago-poluicao-genetica-mutacao-sexo-misterio-pesquisa-ciencia#:~:text=da%20Universidade%20de%20Yale.,segundo%20nos%20consta%2C%20acrescenta%20Lambert).

                Oxalá: caramujo: representa a calma, a persistência, a provocação no sentido que damos ao tempo do nosso dia-a-dia. Conhecido nas religiões afro-brasileiras como o boi-de-Oxalá. Pombo branco – símbolo da paz, da reconciliação, o mensageiro das boas novas.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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