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OGUM E SUAS FALANGES

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 15 de fev. de 2024

Orixá Ogum suadando a lua cheia

Enquanto Orixá, Ogum representa a manifestação divina da ordem e da disciplina. A guerra, para que se estabeleça a paz, a luta para que se estabeleça a força e se conheça os limites. Ogum é a verdade escancarada, doa a quem doer; é a paixão avassaladora pela vida. Ogum representa o arquétipo do guerreiro incansável em busca dos seus objetivos.

            Ogum está no limite de todos os lugares, dimensões e emoções. Daí se entender as falanges do Orixá, ou seja: em cada ponto de força, em cada limite estabelecido, Ogum se apresenta de forma diferenciada. Vejamos:


            Ogum Beira-Mar: o limite entre a praia e o mar. Ligado a Iemanjá, é aquele que recebe primeiro as oferendas a Ela direcionadas, que em seguida passam para as mãos de Ogum Sete Ondas, que faz os pedidos chegarem a seu destino: a Rainha do Mar. Se Ogum Sete Ondas não se agradar da oferenda, Beira-Mar a devolve para a praia. Por isso, todo devoto que for fazer uma oferenda para Iemanjá, deve antes pedir licença para Ogum Beira-Mar. Essa qualidade de Ogum zela pela entrada da Casa da Grande Mãe, é Ele quem faz chegar até a praia as conchas e búzios, enfeitando dessa forma, o portão de entrada do Reino de Iemanjá.

            Os filhos de Ogum Beira-Mar trazem consigo o arquétipo da pessoa zelosa, calma, dócil. São pessoas mais lentas na execução de suas tarefas, isso se dá pelo espírito perfeccionista, que por vezes é confundido com chatice. Comportam-se por vezes, ou diante de algo que os desagradem, como verdadeiros generais, usando seu poder estrategista. São amantes singelos, procuram agradar de forma simples, com gestos e atitudes, ao invés de declarações de amor calorosas.

            No lado negativo, os filhos de Ogum Beira-Mar são daquelas pessoas temperamentais; podendo ter comportamentos sádicos e mentirosos. Quando querem enganar um inimigo ou sair de uma situação em que se veem em perigo, usam da artimanha das lágrimas e das chantagens emocionais.


            Ogum Sete Ondas: o Ogum que está no limite da formação das ondas. O grande guerreiro do mar atuando nas vibrações de Iemanjá e Iansã. Defensor da Calunga Grande, juntamente com Ogum Beira Mar. É o Ogum que está no limite das nossas emoções e sentimentos, atuando nos limites de nossos chakras, que são: chakra base: cóccix (material e físico), chakra esplênico: umbigo (sexualidade, criatividade, emoções), chakra plexo solar: diafragma, acima do estômago (comunicação, aprendizado, desejo de viver), chakra cardíaco: coração (amor incondicional, compaixão, altruísmo), chakra laríngeo: meio da garganta (capacidade para assimilar conhecimento, fala, ponte entre o mundo físico e espiritual), chakra frontal: meio da testa (terceiro olho, intuição, visão interior), chakra coronário: alto da cabeça (luz do conhecimento e consciência, ponte entre a mente espiritual e o cérebro físico).

            Seus filhos costumam ser mais calmos em relação aos outros filhos de Ogum no que diz respeito a brigas e confusões. No entanto, vivem se metendo em discussões calorosas. Emotivos, carinhosos e atenciosos.

            No seu lado negativo, seu temperamento impulsivo acaba por sempre gerar mal- entendidos e confusões. Se comportam por vezes como crianças mimadas, que quando não ganham o que querem, apelam para chantagens emocionais.


            Ogum Sete Espadas: é aquele que está nos limites que definem as linhas da Umbanda: Fé (Oxalá), amor (Iemanjá e Oxum), justiça (Xangô e Iansã), equilíbrio (Ogum), conhecimento (Oxóssi), alegria (Ibejada) e evolução (Omulu e Nanã). Suas espadas têm o simbolismo que faz de um guerreiro, um verdadeiro vencedor: integridade, disciplina, coragem, honra, compaixão, idoneidade e lealdade.  É considerado o Sentinela da Umbanda, pois percorre todas as Linhas, está sempre atento e disposto a livrar seus fiéis de todas as magias negativas. Seu campo de atuação são as estradas, os caminhos que são percorridos pelos homens, rumo à sua evolução, através de novas descobertas e conquistas. É o Ogum que está nos limites da execução de um projeto ou da solução de um problema.

            Seus filhos trazem o arquétipo do homem vigoroso, fiéis aos seus princípios e extremamente leais às suas amizades. Dedicados e responsáveis, não medem sacrifícios para ajudar as pessoas que ama, pois estão sempre de prontidão. Podem ser confusos algumas vezes, no entanto, agem às claras.

            No lado negativo, os filhos de Ogum Sete Espadas estão sempre na espreita, aguardando um ataque. Se feridos, atacam sempre pela frente e não abandonam o campo de batalha enquanto o inimigo não for derrotado.

            Ansiosos, querem sempre resolver suas questões na hora.


             Ogum Rompe Mato: ligado ao Orixá Oxóssi, é o guardião da entrada das matas e atua nas trilhas que levam ao interior da floresta. Nenhum Umbandista deve esquecer de saudar Ogum Rompe Mato quando for levar alguma oferenda para Oxóssi, pois é Ele quem analisa o pedido e só depois passa para o Caboclo Rompe Mato, até chegar ao Dono das Matas. É o Ogum que está sempre abrindo novas possibilidades para seus filhos, estimulando os sentimentos de fé e esperança. Enquanto guardião está sempre alertando sobre os perigos da vida: orgulho, impaciência, corrupção, armadilhas, traição, ganância...

            Seus filhos carregam o arquétipo dos amantes obstinados e dedicados, de tudo fazem para agradar a quem amam. Justos, valentes, se esforçam para realizar com perfeição suas tarefas e obrigações. Corajosos, enfrentam qualquer desafio para alcançar seus objetivos. De pouca paciência, querem sempre tudo rápido e bem feito.

            No lado negativo, é preciso tomar cuidado com a ira dos filhos de Rompe Mato, pois são extremamente perigosos e capazes de se transformarem num animal violento e sanguinário. Quando não gostam de alguém ou se sentem ameaçados, costumam semear a discórdia, para quando voltarem, reinarem absolutos. Quando algo os incomoda, destroem sem dó nem piedade.


            Ogum Megê: o que está nos limites entre os vivos e os mortos. Senhor do Portão da Calunga Pequena (cemitério). Está ligado ao Orixá Omulu. É a Ele que devemos pedir licença ao entrar no Campo Santo, saudando-o sempre do lado direito do portão, a fim de que nos livre da aproximação de energias negativas e espíritos obsessores. É Ogum Megê que nos encoraja nos momentos da tristeza, nos estimula nos momentos do cansaço, nos incentiva nos momentos da decepção, reacende o poder da nossa fé, nos momentos de descrença. É Ogum Megê que canta em nossos ouvidos: filhos de Umbanda não caem.

            Seus filhos carregam o arquétipo dos guerreiros incansáveis, obstinados e corajosos. Nunca desistem de seus objetivos. Possuem personalidade marcante e sempre chamam a atenção por onde passam. São passionais, quando se entregam a uma paixão não conhecem limites e nem obstáculos. Tem uma grande capacidade para convencer as pessoas. São inquietos, precisam estar se movimentando todo o tempo, gostam de festas, lugar onde se divertem até a exaustão. Astutos, ardorosos, viris e muito sagazes.

            No seu lado negativo, têm dificuldade para lidar com suas próprias falhas, chegando por vezes a se autoflagelarem por enganos ou erros cometidos. São rudes e extremamente exigentes. Não se curvam a ninguém, pois carregam consigo um sentimento de poder e grandeza.

           

            Ogum Iara (Yara): está no limite dos rios e suas margens. É o que está presente na transição da infância para adolescência, pois Ele tem forte ligação com o Orixá Ibeji e Oxum. Neste momento Ogum Iara atua no equilíbrio das emoções como: curiosidade, rebeldia e conflitos internos, inerentes a essa fase da vida, usando das ferramentas do diálogo, proteção, compreensão, disciplina e valores. Ogum Iara margeia nossas emoções e sentimentos sempre numa posição de calma e serenidade, para que possamos passar por esta fase tão conturbada de maneira firme e com bons resultados. Ogum Iara tem a calma dos rios, o frescor das matas, a força das águas e a doçura das Ibejadas. Pai austero, forte e amoroso, ensina seus filhos a caminharem por esses caminhos ora iluminados e planos, ora escuros e cheios de obstáculos.

            Seus filhos carregam o arquétipo da pessoa calma, com incrível poder sobre suas emoções e sentimentos. Emocionais, emotivos e carinhosos. Estrategistas, sabem como poucos se livrarem de situações embaraçosas.

            Em seu negativo, nunca atacam de frente, sempre buscam uma forma de pegar o inimigo pelos flancos. Regozijam-se com o sofrimento de seus inimigos. Temperamentais, podem agir intempestivamente.

           

            Ogum Matinata: ligado ao Pai Oxalá, é o guardião dos campos e colinas, onde geralmente são entregues as oferendas para o Senhor do Universo. Está entre o limite do anoitecer/amanhecer, aurora, anunciada pelo canto dos pássaros. Atua no equilíbrio de nossas sombras, medos e inseguranças. Sua ligação com Oxalá faz com que seja um Ogum de comportamento mais calmo e paciente. Está na generosidade na personalidade humana, gerando empatia e compaixão. Está nas respostas rápidas e precisas, necessárias para uma solução urgente. Matinata é a esperança no momento do desespero, a coragem no momento do medo e a decisão no momento da dúvida.

            Seus filhos carregam o arquétipo das pessoas calmas e seguras, amantes da família e amigos leais. São donos de um exagerado sentimentalismo. Estão sempre dispostos a resolverem os problemas dos outros. Tendem a ser inventivos, correndo atrás de soluções e novas ideias. Enquanto amantes são de veneta, ora muito apaixonados; ora, e isso não é raro, isolados e desinteressados.

            No seu lado negativo atacam sempre pela retaguarda, deixando o inimigo sem condições de se defender. Procrastinadores estão sempre deixando seus afazeres para última hora. Reclamões e rabugentos. Têm pressa em tudo, pois acreditam que vão morrer cedo. Sarcásticos. Desatenciosos e confusos.


            É sabido que existem outras tantas falanges de Ogum na Umbanda, como: Naruê, Sete Estradas, Dilei e tantos outros. Aqui, me reservei a falar das qualidades que conheço e convivo no meu dia a dia.

            Que Pai Ogum a todos abençoe!

Ogum nhê!

 
 
 

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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