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Foto do escritorLuiz de Miranda

O OVO: FONTE DE VIDA E ABUNDÂNCIA.

O início da vida

De acordo com um itan (conto) de Ifá, Òlódunmàré (Deus) estava para dar origem ao universo, tinha num pote de barro “4 ovos”. Com o 1º ovo, deu origem a Òòrìsànlà-Òbátálà, surgindo na explosão da luz, sem forma, quando literalmente Deus disse: – haja luz! E assim Òòrìsàlà surgiu no mundo.


Com o 2º, deu origem a Ògún, a forma.


Com o 3º, deu origem a Òbálúwàiyé, a estrutura.


Com 4º, o ovo acidentalmente cai de suas mãos, estourando-se no chão e revelando sua riqueza. Origina-se assim, a primeira mulher universal chamada Ìyàmi-Òsòróngà, expondo o segredo de sua riqueza para o grande Pai, ou seja, mostrando seu poder de fertilidade sobrenatural, exposto a olho nu, diante do Deus Supremo, nascendo assim, a fonte mantenedora da vida.


Como podemos observar através deste itan, o eyn (ovo), tem suma importância nos rituais de limpeza e prosperidade na Umbanda. Seu poder tanto de gerar vida, como de afastar doenças e quebrar maldições, está associado à sua própria natureza enquanto célula reprodutora feminina: composição e fecundação de óvulos. E todo esse poder está também relacionado ao fato de que o ovo é uma criação direta de olodumaré (Deus supremo), representando a união do masculino e feminino, no entanto, sem nenhum vínculo com qualquer um dos dois; pois sabe-se que o ovo não tem cordão umbilical. Através dele (o ovo), colocado primeiro na Terra, dá-se início a vida. E nesse contexto, entende-se a manifestação do grande poderio das mães ancestrais, juntamente com o poder masculino ancestral, fazendo do ovo um elemento de muito axé (poder realizador).

Depois de encantados através de orações, o ovo é usado para diversos fins nos trabalhos de Umbanda: neutralizar o mal, refrescar a cabeça, abrir caminhos, atrair prosperidade e desfazer trabalhos de magia negativa. Dentro de casa, numa vasilha com água e uma pedra de carvão, limpa o ambiente de energias negativas. Neste caso, deve-se observar as posições dos elementos: o ovo tem que estar sempre no fundo e o carvão boiando. Invertidas as posições, deve-se despachar em lixeira e refazer a firmeza.

Passar um ovo cru pelo corpo e quebrar no chão, é um excelente ritual para despachar energias negativas.

Colocado cru nos pés dos altares ou assentamentos de orixás, traz abundância, proteção e prosperidade.

Quando quebrado sobre o ori (cabeça), desfaz trabalhos negativos, perturbações e pragas. Pois, quando um ovo é quebrado, é revelado todo seu segredo, e com isso, desfeito todo mal, fazendo com que morram todas as dificuldades e perseguições nos caminhos daquela pessoa.

De acordo com Ifá, o ovo de pata é considerado um grande aliado contra a morte mandada por trabalhos de magia negativa, prejuízos financeiros e dificuldades nos negócios.

A Orixá Oxum conhece como ninguém todas as propriedades e poderes mágicos do ovo. Não à toa, ela oferece em seu omolocun (comida feita com feijão fradinho, cebola e camarão seco) ovos cozidos, para apaziguar e acalmar as mães ancestrais, em sinal de respeito e veneração



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          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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