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Foto do escritorLuiz de Miranda

O PODER DO PONTO RISCADO

Médium de Umbanda riscando pontos no Terreiro

Os pontos riscados na Umbanda trazem muitos fundamentos. Com seus traços e desenhos, a Entidade revela sua linha de trabalho e a finalidade que se dispõe naquela Gira. De acordo com estudiosos, sua origem se dá em Angola e Congo, berços da cultura banto (ou bantu), de onde chegaram os primeiros escravizados no Brasil.

                O ponto riscado é uma escrita sagrada que proporciona segurança e firmeza, e ainda, evoca poderes ancestrais, onde cada risco traz uma carga de valores espirituais indispensáveis para a firmeza de uma Gira, como também para o grupo que ali se encontra. Tanto no chão do Terreiro, como no corpo dos médiuns e/ou consulentes, as Entidades usam desse fundamento para dar proteção e desfazer males.

           Por vezes, o médium iniciante se sente inseguro na hora de riscar o ponto, quando a Entidade está incorporada, o que é naturalmente compreensível, partindo do princípio de que, enquanto iniciante, se vê na obrigação de responder a todos os ritos pedidos pela Casa que frequenta. No entanto, é bom que se saiba, que o ponto riscado só vem na hora em que o médium estiver devidamente preparado, e consequentemente, relaxado. Pois, é preciso que, enquanto médium de Umbanda, ele conheça suficientemente suas Entidades e suas formas de trabalho.

           O fato de um médium por vezes, não ter dado ainda o ponto riscado de sua Entidade, não quer dizer que ele seja inferior àquele que já o fez. Cada médium tem seu tempo e suas habilidades. Um médium, por exemplo, considerado mão-de-pemba, terá muito mais facilidade de executar o ponto riscado, do que aquele médium que não tem tal habilidade. Tudo no tempo de cada um: esse é o fundamento.

        Também importante ressaltar, que os símbolos abaixo descritos, podem ter significados variados, pois obedecem a um momento, uma situação, um tipo de trabalho que está sendo realizado. Por exemplo: a cruz pode significar ligação entre os mundos espiritual e material, como também a morte, ou ainda a libertação, e fechamento de corpo...

               Aqui será passado um significado genérico:

               

 

 A cruz : por muito tempo, até mesmo para poder manter vivo seus cultos, os escravizados associaram a cruz, ao Pai Oxalá. Graças ao sincretismo, até hoje tal feito permanece em alguns Terreiros. No ponto riscado ela significa a conexão entre o orun (Céu) e o ayê (Terra), a vitória sobre a morte, o ponto de encontro para trabalhos de cura e para desfazer demandas. Muito associada aos Pretos-Velhos e ao Orixá Omolu.

 

Seta para baixo: geralmente riscada em frente ao Congá, em direção a corrente dos médiuns, que dependendo de outros símbolos que acompanhe o risco, significa a expansão do axé do Congá para todos na corrente, e ao mesmo tempo o pedido de licença para iniciar os trabalhos naquela Gira. Está associada aos Caboclos e ao Orixá Oxóssi.

 

Seta para cima: em direção ao Congá, significa a busca do conhecimento, concentração e equilíbrio para o decorrer da Gira. A busca do caminho a se seguir para ter sucesso e prosperidade.

 

Espiral: um dos mais antigos símbolos ancestrais, simbolizando a evolução e involução, a busca pelo “eu”, a força e energia das grandes magias. A necessidade de renovar-se sempre. O espiral traz renovação de forças e axé para o ambiente ou corpo, onde é riscado.

 

 Setas cruzadas: poderoso ponto de proteção. Evocação aos Caboclos das Matas. Barreira contra demandas e dificuldade de concentração.

 

Espada: representa a segurança e ordem aos trabalhos na Gira. Evoca o Orixá Ogum, para que caminhos sejam abertos e nenhum mal atrapalhe esse caminhar. Cruzadas e voltadas para cima, simbolizam o fechamento de corpo, o fechamento de toda passagem do mal. Firmeza e ordem na Gira. Cruzadas e voltadas para baixo, simbolizam a permissão de Orixá Ogum para dar seguimento a Gira e seus trabalhos, ao mesmo tempo, simboliza também o fechamento das encruzilhadas, para que Exu não dê passagem aos inimigos.

Ondas no sentido horizontal: linha do mar. No sentido vertical: linha da Oxum

Linha horizontal: plano material

Linha vertical: plano espiritual                                                                                                                                             Coração: busca pelo equilíbrio sentimental, o amor, a força de Oxum.

Chave: busca por novos conhecimentos e soluções de problemas. Abertura de portas para a prosperidade.

Âncora: representa força e resistência. Capacidade para suportar desafios. Símbolo ligado a Iemanjá e Marinheiros.

Punhal: simboliza força, determinação e poder.

Ramos de louro (ou erva da Jurema): símbolo da prosperidade, abertura de caminhos, vitória e abertura de caminhos.

Garfo quadrado: força de Exu Garfo redondo: força de Pombagira

Caveira: simboliza no ponto riscado a morte, a igualdade, a capacidade de resistir e enfrentar adversidades. Representa a Linha das Almas.

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PONTOS RISCADOS

SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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