Muito ainda se discute sobre o uso do Jogo de Búzios na Umbanda. Tal prática é questionada por alguns sacerdotes do Candomblé que asseguram ser de propriedade exclusiva o seu uso e manuseio. Dão como justificativa para tal posição, o fato de que na Umbanda não se cultua Orixá Africano e sim Falangeiros, e esses não precisariam da consulta ao Jogo de Búzios, já que têm outros métodos para orientar seus Filhos, como a vidência, por exemplo. Outros mais exaltados, chamam de “marmota” tal prática, pois aqueles que jogam Búzios na Umbanda não passaram pelos sete anos de preceitos e ensinamentos realizados no Candomblé. Outros ainda não admitem a prática do Jogo, numa religião que tem apenas sete ou nove Orixás, enquanto no Candomblé e por conseguinte no Jogo de Búzios, são dezesseis Orixás representados por 16 Odus .
As críticas ainda são maiores, quando o Jogo de Búzios é usado por Entidades incorporadas na Umbanda.
Essas críticas não são restritas apenas a alguns grupos do Candomblé. Muitos Umbandistas também não aceitam essa prática em seus Terreiros.
Diante de tal polêmica, respeitando opiniões adversas e com o único objetivo de esclarecer sobre essa prática em alguns Terreiros de Umbanda, que resolvi escrever estas linhas.
Começando pelo búzio (conchinha), que tem sua origem questionada por alguns historiadores. Enquanto alguns afirmam serem originários da África, outros atribuem sua origem ao continente médio-oriental, mais precisamente na Turquia (país euro-asiático que ocupa toda a península da Anatólia, no extremo ocidental da Ásia, e se estende pela Trácia Oriental também conhecida como Rumélia, no sudeste da Europa), única cidade do Mundo localizada entre dois continentes, e que teria chegado à África por conta das invasões daqueles povos aos africanos. E foi por muito tempo usado como moeda de troca.
Partindo do princípio que os búzios são conchinhas, moluscos e, portanto frutos da natureza, entendo que sejam propriedade da humanidade e não de uma determinada religião. O seu uso e manuseio será realizado de acordo com os costumes e conhecimentos do lugar e da cultura existente.
É preciso entender que não existe Jogo de Búzios na Umbanda como existe no Candomblé. São duas “receitas” diferentes para um mesmo produto. Na Umbanda, a caída dos búzios abertos e fechados representa a fala de um Caboclo, Preto Velho, Ibeijada, Boiadeiros, etc. Entidades estas, descendentes de Negros africanos e que com eles muito aprenderam sobre o Jogo de Búzios. Não encontrando no Candomblé espaço para dar suas manifestações, o fazem nos Terreiros de Umbanda. E assim, buscam difundir seus conhecimentos na intenção de eternizar aquilo que aprenderam, e que acreditam ser de grande valia para o progresso de seus Filhos e seguidores.
Quanto ao Pai ou Mãe no Santo que usam o Jogo de Búzios, quando incorporados, é pelo fato de se sentirem mais seguros e com maior firmeza para suas respostas e confirmações da vidência da Entidade incorporada. O médiun não vê o que a Entidade está vendo, ele recebe uma mensagem através de seu cérebro e precisa saber interpretar. Muitas vezes, por conta de estresse, cansaço ou até mesmo uma interferência negativa do consulente (sim, o consulente pode atrapalhar e muito, uma consulta. É preciso que a pessoa que está diante da Entidade, esteja com a inenção de ser ajudada e não com a intenção de receber adivinhações.), o médiun não consegue discernir com exatidão a mensagem que está recebendo. Com o Jogo de Búzios, esta vidência fica mais clara e se torna muito mais difícil para um quiumba manipular tal mensagem. Funciona assim, como um canal de concentração. Logo, é fácil entender que uma Entidade não usa o Jogo de Búzios como um oráculo, mas sim, como um instrumento de trabalho.
Para um médiun de Umbanda jogar os Búzios, ele também precisa receber vários fundamentos: amacis, camarinha, coroação etc. Ressalvando que Jogo de Búzios, não se aprende em Livros ou na Internet. É preciso ter o dom e muita dedicação para entender e decifrar as caídas dos búzios.
Relembrando: Jogo de Búzios no Candomblé é diferente do Jogo de Búzios na Umbanda. Não há o melhor ou o pior. Há aquele que melhor nos identificamos, enquanto consulentes. Já para manipular, é preciso preparo e permissão. E neste caso, vai depender de seguir os preceitos e fundamentos da religião escolhida.
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