top of page
Foto do escritorLuiz de Miranda

O AMALÁ DE XANGÔ: O RESGATE DA ANCESTRALIDADE.

Atualizado: 21 de jun. de 2023


Oferenda de grande fundamento na Umbanda, o Amalá de Xangô representa a força e o poder desse Orixá. Através dele, o Senhor da Justiça identifica os membros de uma comunidade, e para cada um deles, aplica Sua lei. Xangô honra os que o respeitam e louvam, e pune afastando do convívio de seus leais seguidores, os que mentem e trapaceiam. Xangô abomina a mentira, e se alegra com a verdade e a justiça.

Orixá da misericórdia, faz do seu senso de justiça a arma infalível para manter o equilíbrio e a boa convivência entre seu povo. Xangô é o Rei da Umbanda. Todos os outros Orixás respeitam e reverenciam Xangô, graças aos seus grandes feitos a favor da justiça.

Seu oxé (machado de duas lâminas) é seu maior símbolo, que pode ser comparado a balança da justiça que representa a nivelação das partes envolvidas num processo e expressa a equivalência e equação entre o castigo e a culpa.

A entrega do Amalá de Xangô é um momento de grande emoção e devoção. Todos os filhos dançam e batem palmas para homenagear o Rei da Umbanda que está entre eles através da oferenda, dos cânticos e da fé. De corações limpos e abertos, todos reverenciam o Orixá da justiça, agradecendo e fazendo seus pedidos e principalmente fortalecendo seu axé. E Xangô tudo observa, fazendo cada filho entender que o fortalecimento do axé de cada um, parte principalmente da sua conduta diária, da sua relação com as pessoas fora das paredes dos Terreiros. Pois viver a religião de Umbanda é antes de tudo, a maneira como um filho se comporta em relação a seus irmãos. Um filho no Santo que fala mal ou tenta prejudicar um irmão, deve saber que está agredindo ao Orixá e Xangô tudo vê, tudo sabe, e dentro da sua lei aplica a justiça.

Xangô é alegria, é paz, é segurança e equilíbrio. Agradar a Xangô de coração e alma é a certeza de uma vida próspera e equilibrada. Xangô sabe como ensinar a um filho vencer as adversidades, basta este filho estar de coração e alma limpos, pra perceber e entender a mensagem do Orixá.

O Amalá de Xangô é o resgate da ancestralidade, o contato direto com Aquele que veio muito antes de nós e continua vivo, educando, amparando, corrigindo e orientando. Quando Xangô recebe esta oferenda tão cheia de simbolismos e significados, ao mesmo tempo Ele distribui toda energia contida naqueles alimentos para cada um dos filhos presentes para que sejam alimentados e fortalecidos em corpo e alma. O orobô, semente sagrada consagrada a este Orixá e que faz parte do Amalá, tem como finalidade afastar toda negatividade, atraindo a vitalidade e a força. Sem contar sua capacidade extraordinária de saciar a fome e a sede, entre outras propriedades medicinais, como: estimulante cerebral, auxilia no combate ao esgotamento físico, melancolia, exaustão, depressão e enxaqueca.

A farinha, o quiabo, a banana e a carne são igualmente alimentos de grande poder de saciedade, e Xangô gosta da mesa farta com alimentos que saciem a fome de seus eleitos. Inclusive, comer é um dos maiores prazeres dos filhos de Xangô.

O azeite de dendê tem sua importância crucial, pois ele representa toda a história dos nossos Orixás, é o sangue vegetal, o potencializador, é o que aquece, esquenta, energiza.


RECEITA DO AMALÁ DE XANGÔ:


1 quilo de quiabos (separar 12 inteiros)

½ quilo de farinha de mandioca

1 quilo de peito bovino ou rabada

12 bananas prata, maçã, são Tomé (menos da terra)

Azeite de dendê

250 gr. Camarão seco

2 cebolas grandes

1 orobô

Modo de fazer: coloque a carne inteira dentro de uma panela de pressão, cubra com água, acrescente um pouco de sal. Deixe cozinhar até ficar bem macia. Retire a carne e reserve a água. Desfie a carne.Pique os quiabos bem fininhos em forma de cruz. Bata no liquidificador uma cebola junto com o camarão. Aqueça o dendê em uma panela e coloque a cebola e o camarão batidos para refogar. Coloque os quiabos e em fogo brando, vá acrescentando água aos poucos, até as sementes dos quiabos ficarem bem rosadas. Com a água da carne, faça um pirão, forre a gamela com ele, por cima coloque os quiabos refogados e a carne desfiada. Enfeite com as bananas e os quiabos inteiros com a coroa pra cima, no meio uma cebola descascada. Descasque o orobô com as unhas, morda um pedaço, mastigue bem e engula a seiva, o bagaço assopre em cima da obrigação. O pedaço que sobrou, rale e faça um banho, tomando da cabeça aos pés.

20.900 visualizações2 comentários

Posts recentes

Ver tudo

SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

  • facebook-square
  • Twitter Square
  • Google Square
bottom of page