NANÃ BURUQUÊ
ACOLHIMENTO E AUTOPERDÃO
(Luiz de Miranda – Pai no Santo)
Considerada a Orixá mais velha pelos Umbandistas, Nanã Buruquê Senhora das águas paradas e lamacentas dos pântanos... aqui, um adendo para a importância desse ecossistema: “Os pântanos possuem grande importância para a humanidade, já que prestam diversos serviços ecossistêmicos essenciais para a manutenção e sobrevivência dos seres vivos. Essas áreas cobrem cerca de 6% da superfície da Terra. Entre eles estão a proteção contra tempestades, a regulação de enchentes e a facilitação da irrigação para a agricultura. Além disso, eles servem de habitat para uma enorme diversidade de aves, peixes e outros organismos aquáticos. Os pântanos também possuem papel fundamental na regulação da temperatura do planeta. Afinal, estas zonas úmidas captam mais gás carbônico – carbono azul – do que todas as florestas juntas. No entanto, esse ecossistema vem sendo degradado pelas ações humanas.” (https://www.ecycle.com.br/pantano/)
... simboliza a memória ancestral, a que guarda os mistérios da vida e da morte. Desde os tempos mais remotos, foi na morte que o homem começou a desenvolver um sentimento religioso e passou a entender que a morte gera a vida, não há vida se não houver morte.
Um grão para germinar precisa morrer.
Nada se perde, tudo se transforma.
Nanã é a garoa, a chuva mansa que limpa nossa atmosfera e renova a vida. Os banhos com as águas das chuvas são de grande fundamento para as filhas de Nanã e para aqueles que precisam renovar suas energias.
Orixá feminina que fez parte da criação do mundo e dos seres humanos: “quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho-de-palma, e nada. Foi então que Nanã Buruquê veio em seu socorro. Apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama. Nanã deu a porção de lama a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nanã Buruquê. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.”
Nanã Buruquê está no início, no meio e no fim da vida. Todo processo de criação passa pelas mãos de Nanã. No início, é onde acontece o germinar; no meio, onde se adquire conhecimento e sabedoria; no fim, quando o corpo precisa voltar à sua origem (o barro). É Nanã Buruquê quem atua na decantação emocional e no adormecimento da memória do espírito que irá reencarnar, para que este, então, não se lembre de nada que vivenciou na sua última existência.
Orixá da sabedoria, seu campo de atuação é o emocional dos seres humanos, no que diz respeito ao equilíbrio de nossas emoções e sentimentos. Nanã é a mãe acolhedora, mas também austera e justa. Não admite ingratidão, mentiras e dissimulações. Justa e sábia sabe exatamente o tempo de todas as coisas: Nanã nunca se apressa.
Nanã é a guardiã da memória ancestral, aquela que assistiu e participou de toda criação. Exatamente por isso, a memória dos seres humanos é também um campo de atuação desta Orixá.
Em outra linha da vida, ela é encontrada na menopausa. No início desta linha está Oxum estimulando a sexualidade feminina; no meio está Yemanjá, estimulando a maternidade; e no fim está Nanã, paralisando tanto a sexualidade quanto a geração de filhos.
Nanã é a mãe que ensina aos filhos os caminhos do autoperdão.
Antes mesmo, muito antes da criação de leis para protegerem as mulheres e garantirem seus direitos, Nanã já fazia esse papel à sua época, punindo os homens em benefício das mulheres. Daí a fama até os dias atuais de que Ela não gosta dos homens, o que não é bem assim, na realidade, Nanã não gosta dos homens que subjugam as mulheres.
“Nanã era considerada como a grande justiceira. Qualquer problema que ocorria em seu reino, os habitantes a procuravam para ser a juíza das causas. No entanto, Nanã era conhecida como aquela que sempre castigava mais os homens, perdoando as mulheres.
Nanã possuía um jardim em seu palácio onde havia um quarto para o eguns, que eram comandados por ela. Se alguma mulher reclamava do marido, Nanã mandava prendê-lo chamando os eguns para assustá-lo, libertando o faltoso em seguida.
Oxalufã sabedor das atitudes da velha Nanã resolveu visitá-la. Chegou a seu palácio faminto e pediu a Nanã que lhe preparasse um suco com igbins. Oxalufã muito sabido fez Nanã beber dele, acalmando-a e a cada dia que passava ela gostava mais do velho rei.
Pouco a pouco Nanã foi cedendo aos pedidos do velho, até que um dia o levou a seu jardim secreto, mostrando-lhe como controlava os eguns. Na ausência de Nanã, Oxalufã vestiu-se de mulher e foi ter com os eguns, chamando-os exatamente como Nanã fazia, ordenando-lhes que deveriam obedecer a partir dali somente ao homem que vivia na casa da rainha. Em seu retorno Nanã tomou conhecimento do fato ficando zangada com o velho rei. Foi então que rogou uma praga no velho rei que partir dali nunca mais usaria vestes masculinas. Por isso até hoje Oxalufã veste-se com saia cumprida e cobre o rosto como as deusas rainhas.”
Oxalá foi o grande amor de Nanã, mas por ele não foi correspondida, o que leva suas filhas a terem dificuldades para acreditar num relacionamento amoroso. Estão sempre com a sensação de que serão traídas ou abandonadas.
A Nanã Buruquê (ou Buruku) se pede para afastar a morte mandada ou desejada. Que tudo ocorra no tempo de Nanã para que a vida siga seu destino. Que a morte seja leve para os bons.
O culto para Nanã Buruquê é originário dos povos Jeje, no antigo Daomé, atual República do Benin, na África. Entre os Yorubás, Nanã não era conhecida. Inclusive se fala que, a respeito da lenda de que Nanã abandona seu filho Omolu à beira mar, para ser criado por Yemanjá, não foi na realidade um ato de abandono e sim, um ato político, onde sem sangue e guerras Nanã une as duas culturas.
A saudação para Nanã é saluba (nós nos refugiamos em Nanã).