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OS MARINHEIROS NA UMBANDA

Atualizado: 13 de dez. de 2024

(Luiz de Miranda-Pai no Santo)


A Linha dos Marinheiros na Umbanda é formada por Entidades que em suas últimas reencarnações viveram dos benefícios que o mar oferece. São os marujos, pescadores, piratas, canoeiros e ribeirinhos, que integram essa poderosa Linha. Hoje, enquanto Entidades, baixam nos Terreiros de Umbanda para trazerem equilíbrio e serenidade aos que se encontram em meio as suas “tempestades” pessoais. Isso se dá, pelo fato de conhecerem muito sobre os segredos e mistérios do mar. Assim como outrora, dependia do mar para sua existência, hoje, ensina aos Umbandistas a explorarem suas águas (sentimentos), e a buscarem na “bússola da vida” a melhor rota para se livrarem dos perigos e armadilhas; que muitas vezes os acometem pela falta de vigilância e conhecimento. Em suas incorporações, aparentam estar bêbados; o que na realidade não é verdade. Acostumados aos balanços das embarcações, e extremamente ligados aos movimentos do mar, chegam balançando os corpos de seus médiuns, e ainda com uma certa dificuldade para caminharem em terra firme. Quem incorpora essas Entidades, sabe bem a sensação de estar “mareado”. São Entidades acolhedoras e carismáticas. Gostam de cantar para o Povo do Mar, em especial para Iemanjá, a Grande Mãe, que Eles reverenciam e buscam as energias para a realização de seus trabalhos de limpeza e proteção. Suas incorporações não são muito demoradas, prevenindo dessa forma, causar qualquer mal estar ao seu médium, como por exemplo: tonturas e enjoos. As oferendas aos Marinheiros consistem em frutas cítricas, cerveja, rum, abobrinha verde, arroz, peixes, e todo alimento provindo do mar. Charutos, cigarros, incenso de sal grosso, rosa branca, velas brancas ou azul claro. O dia festivo dedicado aos Marinheiros é 13 de dezembro, data do nascimento do Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marques de Tamandaré. Homem que dedicou 60 anos de sua vida à Marinha brasileira. Um fervoroso abolicionista.


João Cândido

(Rio Pardo, RS, 1880 – Rio de Janeiro, RJ, 1969)

http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/07/17/jo%C3%A3o-c%C3%A2ndido

"João Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro” foi um marinheiro brasileiro notório por ter liderado a Revolta da Chibata. Nasceu no ano de 1880 em Rio Pardo, interior do Rio Grande do Sul e com dez anos mudou-se para Porto Alegre aos cuidados do almirante Alexandrino de Alencar, amigo da família do patrão de seu pai. Quatro anos mais tarde, João Cândido ingressaria como “grumete” na marinha do Brasil, pelas mãos do próprio almirante Alexandrino. A marinha, na época, era destino de jovens excluídos e marginais da sociedade, negros em maioria. Era muito comum os rapazes chegarem à marinha indicados pela polícia. No ano seguinte o “grumete” foi destacado para trabalhar no Rio de Janeiro. Na capital, seu espírito de liderança logo o fez destacar-se perante os demais. Aos 20 anos já era instrutor de aprendizes-marinheiros. No inicio de 1900 tomou parte em uma missão na qual o Brasil disputou com a Bolívia o território do Acre. Estando empenhado na missão por 11 meses, contraiu tuberculose pulmonar e voltou para o Rio de Janeiro onde ficou internado no hospital da marinha por noventa dias. Recuperado, aos 29 anos João Cândido foi enviado junto a outros marinheiros para a Inglaterra, com o fim de familiarizarem com o equipamento do novo navio de guerra brasileiro batizado de Minas Gerais. Lá, os marujos brasileiros travaram contato com marinheiros ingleses, que compunham um dos mais politizados e organizados proletariados existentes no mundo. A partir de então, os marinheiros brasileiros passaram a questionar a situação da marinha no país. Os questionamentos ganharam popularidade e os marujos passaram a realizar reuniões e mostrar insatisfação com a situação. Quando as autoridades perceberam o clima de revolta instalado, João Candido, reconhecido líder dos marujos, foi convidado a comparecer ao Palácio do Governo do então presidente Nilo Peçanha, que tentava fazê-lo aliado. Na reunião, o marujo resistiu à tentativa de aproximação e em nome dos marinheiros pediu o fim da chibata. Em 22 de novembro de 1910 – 6 dias após a punição de 250 chibatadas infligida ao marujo Marcelino Menezes – explodiu a Revolta. Os marinheiros, sob liderança de João Cândido, protestaram contra as condições a que estavam relegados: os baixos salários, a ausência de um plano de carreira e, sobretudo, contra o castigo de impor chicotadas naqueles que cometiam as menores falhas. A punição da chibatada era uma prática herdada da marinha portuguesa e os castigos eram realizados a vista dos demais marinheiros. Os revoltosos tomaram então dois encouraçados e apontaram-nos para a baia de Guanabara, pedindo pelo fim das chibatadas. João Cândido liderou o couraçado Minas Geraes, maior navio de guerra brasileiro, recém-adquirido. Com o Minas Geraes, aliaram-se os encouraçados São Paulo e Bahia. Após quatro dias de enorme tensão na Capital Federal, a Revolta chegou ao fim quando o governo concedeu anistia aos revoltosos. No entanto, ao final de dois dias deu-se início a um cruel processo de perseguição aos marinheiros. Vinte e dois marujos foram presos na Ilha das Cobras, sede dos Fuzileiros Navais, enquanto João Cândido seguiu trabalhando como marinheiro no Minas Geraes. Em 9 de dezembro deu-se início a um motim armado na Ilha, que dividiu os marujos. João Cândido e alguns líderes da revolta de novembro posicionam-se contra o motim, julgando que este poderia enfraquecer a causa. Os amotinados são massacrados em menos de 24 horas. Muitos oficiais também terminaram mortos. Apesar de ter se posicionado contra a revolta na Ilha das Cobras, João Cândido foi preso ao desembarcar do Minas Gerais, sob a alegação de ter desobedecido ordens superiores. Novas levas de prisões de marinheiros superlotaram os presídios. O Almirante Negro foi então transferido ao lado de outros dezessete marujos para a Ilha das Cobras, onde todos foram trancados em uma solitária, no dia 24 de dezembro. No dia 26, ao abrir a cela, o oficial deparou-se com 16 dos presos mortos por asfixia, em razão da cal, usada para desinfetar a solitária, ter penetrado no pulmão dos presos. Apenas João Cândido e o soldado naval João Avelino sobreviveram. O fato ficou marcado tragicamente na memória do Almirante Negro. Em 18 de abril de 1911, João foi transferido para o Hospital dos Alienados, sob o rótulo de doente mental. Ali, ele permaneceu durante dois meses conseguindo passar relativamente bem, fazendo amizade com alguns enfermeiros e conseguindo, inclusive, que fizessem vista grossa para alguns passeios pela cidade. Na época, o diretor do hospital era o renomado médico Juliano Moreira. Ao final de dois meses, sem justificativa plausível para sua permanência no hospital, Cândido foi levado de volta ao presídio na Ilha das Cobras. Finalmente, após dezoito meses de prisão, João Cândido e os marujos seus companheiros foram levados ao Conselho de Guerra para serem julgados. No julgamento, são defendidos por advogados contratados pela Irmandade da Igreja Nossa Senhora do Rosário, que nada cobram por seus serviços. Na madrugada do dia primeiro de dezembro de 1912 são absolvidos, mas excluídos da Marinha pelo Conselho de Guerra. Ao sair da prisão, João Cândido encontrou-se sem dinheiro, abatido, com 32 anos e apenas a roupa do corpo. Após um curto tempo procurando emprego, foi acolhido pelo carpinteiro Freitas, que lhe ofereceu abrigo. Logo, passou a namorar Marieta, uma das filhas do carpinteiro, e tornou-se conhecido das pessoas do bairro, que ficavam animadas em ouvir as histórias da Revolta. Trabalhando no Porto, João Cândido encontrou lugar na tripulação do veleiro Antonico, que o marinheiro conduziu com maestria durante alguns meses pela costa brasileira, tornando-se inclusive comandante do barco depois do proprietário adoecer. Esta foi a primeira vez que João Cândido vestiu a farda de comandante. Após o natal, casou-se na Igreja da Glória com a filha do carpinteiro que lhe deu abrigo. A bonança do marinheiro, porém, durou pouco mais de um ano, quando João Cândido foi demitido do Antonico a pedido do comandante dos portos de Santa Catarina, Ascânio Montes, que era oficial do Minas Gerais durante a Revolta da Chibata e havia sido preso pelos revoltosos na ocasião. À partir daí, ao encontrar novo emprego na marinha mercante, João Cândido passou a ser sempre boicotado, ora pelo comandante do Porto de Santa Catarina, ora pela sua saúde, debilitada. Em 1917 a sua esposa vem a falecer, vítima de uma infecção intestinal. Três anos se passam e João Cândido conheceu Maria Dolores, moça de 18 anos, pela qual se apaixona. Os dois se casam e vão morar em São João de Meriti, subúrbio da capital federal. João passa então a trabalhar de madrugada na descarga de peixes na praça XV, enquanto procura ajudar Maria na criação de seus quatro filhos. A relação entre os dois, marcada por diversas brigas, tem um final trágico, quando, em 1928, Maria Dolores coloca fogo no próprio corpo em frente às duas filhas mais velhas do casal, Nuaça, 8, e Zelândia, 4. No ano seguinte, João conseguiria a guarda dos filhos e teria mais alguns meses de calmaria até ficar um dia preso em 1930, por supostas relações com líderes de esquerda que estariam conspirando contra Washington Luís. No mesmo ano passou a morar junto de uma nova mulher, Ana, enquanto sua saúde vai se tornando cada vez mais debilitada e frágil com o trabalho pesado na madrugada. Sempre atento à politica e sendo constantemente requisitado pelos líderes dos movimentos políticos do Brasil, João acompanhou entusiasmado o surgimento e a atuação do grupo de esquerda Aliança Nacional Libertadora. Mais tarde, animou-se ainda mais com a Ação Integralista Brasileira, grupo de direita que logo se espalhou entre praças e jovens da Marinha de Guerra. João chegou inclusive a filiar-se ao núcleo integralista da Pavuna, mas por fim acaba se decepcionando com o grupo e seu líder Plínio Salgado. Em 1964 foi derrotada a “Rebelião dos Marinheiros”, liderada pela Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), que surgiu em 1962 lutando pelo direito da classe. Candido tomou parte na Rebelião, ocorrida no prédio da Associação e considerada por alguns a versão da década de 60 da revolta da chibata. Em 1968, já casado com Ana, João Cândido concedeu entrevista ao Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro, como parte do ciclo “História Contemporânea”. No ano seguinte, dia 06 de dezembro de 1969, aos 89 anos, João Cândido morreu vitima de um câncer no intestino. Nos anos finais de sua vida o Almirante Negro recebeu pensão da prefeitura da sua cidade natal, Rio Pardo. No começo da década de 70, uma das mais belas canções da música popular brasileira “O mestre sala dos mares” - em homenagem a João Cândido e a Revolta da Chibata - é lançada na voz de Elis Regina, após a letra da canção de Aldir Blanc e João Bosco ter ficado por alguns anos presa à censura pelo fato de exaltar a raça negra."


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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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