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Foto do escritorLuiz de Miranda

OS MARINHEIROS NA UMBANDA

Atualizado: há 5 dias

(Luiz de Miranda-Pai no Santo)


A Linha dos Marinheiros na Umbanda é formada por Entidades que em suas últimas reencarnações viveram dos benefícios que o mar oferece. São os marujos, pescadores, piratas, canoeiros e ribeirinhos, que integram essa poderosa Linha. Hoje, enquanto Entidades, baixam nos Terreiros de Umbanda para trazerem equilíbrio e serenidade aos que se encontram em meio as suas “tempestades” pessoais. Isso se dá, pelo fato de conhecerem muito sobre os segredos e mistérios do mar. Assim como outrora, dependia do mar para sua existência, hoje, ensina aos Umbandistas a explorarem suas águas (sentimentos), e a buscarem na “bússola da vida” a melhor rota para se livrarem dos perigos e armadilhas; que muitas vezes os acometem pela falta de vigilância e conhecimento. Em suas incorporações, aparentam estar bêbados; o que na realidade não é verdade. Acostumados aos balanços das embarcações, e extremamente ligados aos movimentos do mar, chegam balançando os corpos de seus médiuns, e ainda com uma certa dificuldade para caminharem em terra firme. Quem incorpora essas Entidades, sabe bem a sensação de estar “mareado”. São Entidades acolhedoras e carismáticas. Gostam de cantar para o Povo do Mar, em especial para Iemanjá, a Grande Mãe, que Eles reverenciam e buscam as energias para a realização de seus trabalhos de limpeza e proteção. Suas incorporações não são muito demoradas, prevenindo dessa forma, causar qualquer mal estar ao seu médium, como por exemplo: tonturas e enjoos. As oferendas aos Marinheiros consistem em frutas cítricas, cerveja, rum, abobrinha verde, arroz, peixes, e todo alimento provindo do mar. Charutos, cigarros, incenso de sal grosso, rosa branca, velas brancas ou azul claro. O dia festivo dedicado aos Marinheiros é 13 de dezembro, data do nascimento do Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marques de Tamandaré. Homem que dedicou 60 anos de sua vida à Marinha brasileira. Um fervoroso abolicionista.


João Cândido

(Rio Pardo, RS, 1880 – Rio de Janeiro, RJ, 1969)

http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/07/17/jo%C3%A3o-c%C3%A2ndido

"João Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro” foi um marinheiro brasileiro notório por ter liderado a Revolta da Chibata. Nasceu no ano de 1880 em Rio Pardo, interior do Rio Grande do Sul e com dez anos mudou-se para Porto Alegre aos cuidados do almirante Alexandrino de Alencar, amigo da família do patrão de seu pai. Quatro anos mais tarde, João Cândido ingressaria como “grumete” na marinha do Brasil, pelas mãos do próprio almirante Alexandrino. A marinha, na época, era destino de jovens excluídos e marginais da sociedade, negros em maioria. Era muito comum os rapazes chegarem à marinha indicados pela polícia. No ano seguinte o “grumete” foi destacado para trabalhar no Rio de Janeiro. Na capital, seu espírito de liderança logo o fez destacar-se perante os demais. Aos 20 anos já era instrutor de aprendizes-marinheiros. No inicio de 1900 tomou parte em uma missão na qual o Brasil disputou com a Bolívia o território do Acre. Estando empenhado na missão por 11 meses, contraiu tuberculose pulmonar e voltou para o Rio de Janeiro onde ficou internado no hospital da marinha por noventa dias. Recuperado, aos 29 anos João Cândido foi enviado junto a outros marinheiros para a Inglaterra, com o fim de familiarizarem com o equipamento do novo navio de guerra brasileiro batizado de Minas Gerais. Lá, os marujos brasileiros travaram contato com marinheiros ingleses, que compunham um dos mais politizados e organizados proletariados existentes no mundo. A partir de então, os marinheiros brasileiros passaram a questionar a situação da marinha no país. Os questionamentos ganharam popularidade e os marujos passaram a realizar reuniões e mostrar insatisfação com a situação. Quando as autoridades perceberam o clima de revolta instalado, João Candido, reconhecido líder dos marujos, foi convidado a comparecer ao Palácio do Governo do então presidente Nilo Peçanha, que tentava fazê-lo aliado. Na reunião, o marujo resistiu à tentativa de aproximação e em nome dos marinheiros pediu o fim da chibata. Em 22 de novembro de 1910 – 6 dias após a punição de 250 chibatadas infligida ao marujo Marcelino Menezes – explodiu a Revolta. Os marinheiros, sob liderança de João Cândido, protestaram contra as condições a que estavam relegados: os baixos salários, a ausência de um plano de carreira e, sobretudo, contra o castigo de impor chicotadas naqueles que cometiam as menores falhas. A punição da chibatada era uma prática herdada da marinha portuguesa e os castigos eram realizados a vista dos demais marinheiros. Os revoltosos tomaram então dois encouraçados e apontaram-nos para a baia de Guanabara, pedindo pelo fim das chibatadas. João Cândido liderou o couraçado Minas Geraes, maior navio de guerra brasileiro, recém-adquirido. Com o Minas Geraes, aliaram-se os encouraçados São Paulo e Bahia. Após quatro dias de enorme tensão na Capital Federal, a Revolta chegou ao fim quando o governo concedeu anistia aos revoltosos. No entanto, ao final de dois dias deu-se início a um cruel processo de perseguição aos marinheiros. Vinte e dois marujos foram presos na Ilha das Cobras, sede dos Fuzileiros Navais, enquanto João Cândido seguiu trabalhando como marinheiro no Minas Geraes. Em 9 de dezembro deu-se início a um motim armado na Ilha, que dividiu os marujos. João Cândido e alguns líderes da revolta de novembro posicionam-se contra o motim, julgando que este poderia enfraquecer a causa. Os amotinados são massacrados em menos de 24 horas. Muitos oficiais também terminaram mortos. Apesar de ter se posicionado contra a revolta na Ilha das Cobras, João Cândido foi preso ao desembarcar do Minas Gerais, sob a alegação de ter desobedecido ordens superiores. Novas levas de prisões de marinheiros superlotaram os presídios. O Almirante Negro foi então transferido ao lado de outros dezessete marujos para a Ilha das Cobras, onde todos foram trancados em uma solitária, no dia 24 de dezembro. No dia 26, ao abrir a cela, o oficial deparou-se com 16 dos presos mortos por asfixia, em razão da cal, usada para desinfetar a solitária, ter penetrado no pulmão dos presos. Apenas João Cândido e o soldado naval João Avelino sobreviveram. O fato ficou marcado tragicamente na memória do Almirante Negro. Em 18 de abril de 1911, João foi transferido para o Hospital dos Alienados, sob o rótulo de doente mental. Ali, ele permaneceu durante dois meses conseguindo passar relativamente bem, fazendo amizade com alguns enfermeiros e conseguindo, inclusive, que fizessem vista grossa para alguns passeios pela cidade. Na época, o diretor do hospital era o renomado médico Juliano Moreira. Ao final de dois meses, sem justificativa plausível para sua permanência no hospital, Cândido foi levado de volta ao presídio na Ilha das Cobras. Finalmente, após dezoito meses de prisão, João Cândido e os marujos seus companheiros foram levados ao Conselho de Guerra para serem julgados. No julgamento, são defendidos por advogados contratados pela Irmandade da Igreja Nossa Senhora do Rosário, que nada cobram por seus serviços. Na madrugada do dia primeiro de dezembro de 1912 são absolvidos, mas excluídos da Marinha pelo Conselho de Guerra. Ao sair da prisão, João Cândido encontrou-se sem dinheiro, abatido, com 32 anos e apenas a roupa do corpo. Após um curto tempo procurando emprego, foi acolhido pelo carpinteiro Freitas, que lhe ofereceu abrigo. Logo, passou a namorar Marieta, uma das filhas do carpinteiro, e tornou-se conhecido das pessoas do bairro, que ficavam animadas em ouvir as histórias da Revolta. Trabalhando no Porto, João Cândido encontrou lugar na tripulação do veleiro Antonico, que o marinheiro conduziu com maestria durante alguns meses pela costa brasileira, tornando-se inclusive comandante do barco depois do proprietário adoecer. Esta foi a primeira vez que João Cândido vestiu a farda de comandante. Após o natal, casou-se na Igreja da Glória com a filha do carpinteiro que lhe deu abrigo. A bonança do marinheiro, porém, durou pouco mais de um ano, quando João Cândido foi demitido do Antonico a pedido do comandante dos portos de Santa Catarina, Ascânio Montes, que era oficial do Minas Gerais durante a Revolta da Chibata e havia sido preso pelos revoltosos na ocasião. À partir daí, ao encontrar novo emprego na marinha mercante, João Cândido passou a ser sempre boicotado, ora pelo comandante do Porto de Santa Catarina, ora pela sua saúde, debilitada. Em 1917 a sua esposa vem a falecer, vítima de uma infecção intestinal. Três anos se passam e João Cândido conheceu Maria Dolores, moça de 18 anos, pela qual se apaixona. Os dois se casam e vão morar em São João de Meriti, subúrbio da capital federal. João passa então a trabalhar de madrugada na descarga de peixes na praça XV, enquanto procura ajudar Maria na criação de seus quatro filhos. A relação entre os dois, marcada por diversas brigas, tem um final trágico, quando, em 1928, Maria Dolores coloca fogo no próprio corpo em frente às duas filhas mais velhas do casal, Nuaça, 8, e Zelândia, 4. No ano seguinte, João conseguiria a guarda dos filhos e teria mais alguns meses de calmaria até ficar um dia preso em 1930, por supostas relações com líderes de esquerda que estariam conspirando contra Washington Luís. No mesmo ano passou a morar junto de uma nova mulher, Ana, enquanto sua saúde vai se tornando cada vez mais debilitada e frágil com o trabalho pesado na madrugada. Sempre atento à politica e sendo constantemente requisitado pelos líderes dos movimentos políticos do Brasil, João acompanhou entusiasmado o surgimento e a atuação do grupo de esquerda Aliança Nacional Libertadora. Mais tarde, animou-se ainda mais com a Ação Integralista Brasileira, grupo de direita que logo se espalhou entre praças e jovens da Marinha de Guerra. João chegou inclusive a filiar-se ao núcleo integralista da Pavuna, mas por fim acaba se decepcionando com o grupo e seu líder Plínio Salgado. Em 1964 foi derrotada a “Rebelião dos Marinheiros”, liderada pela Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), que surgiu em 1962 lutando pelo direito da classe. Candido tomou parte na Rebelião, ocorrida no prédio da Associação e considerada por alguns a versão da década de 60 da revolta da chibata. Em 1968, já casado com Ana, João Cândido concedeu entrevista ao Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro, como parte do ciclo “História Contemporânea”. No ano seguinte, dia 06 de dezembro de 1969, aos 89 anos, João Cândido morreu vitima de um câncer no intestino. Nos anos finais de sua vida o Almirante Negro recebeu pensão da prefeitura da sua cidade natal, Rio Pardo. No começo da década de 70, uma das mais belas canções da música popular brasileira “O mestre sala dos mares” - em homenagem a João Cândido e a Revolta da Chibata - é lançada na voz de Elis Regina, após a letra da canção de Aldir Blanc e João Bosco ter ficado por alguns anos presa à censura pelo fato de exaltar a raça negra."


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