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Foto do escritorLuiz de Miranda

OS BAIANOS NA UMBANDA Linha dos Baianos na Umbanda

Imagem em gesso de Zé Baiano

Entendendo a Umbanda como uma religião afro-brasileira, voltada para a valorização e exaltação a povos ancestrais socialmente excluídos, hoje exaltaremos a importância da Linha dos Baianos na Umbanda.

                Essa falange é relativamente nova, ela aparece nos Terreiros nas décadas de 50 e 60, época considerada como pós revolução industrial, que implanta no Brasil nos idos de 1930 o trabalho manufaturado, provocando um movimento de migração do camponês para a zona urbana. E esse camponês atraído pelas oportunidades de trabalho, e ao mesmo tempo, a chance de fugir da seca que maltrata o Nordeste, ao chegar na cidade grande, precisa se adaptar a mudanças radicais e encontra muita dificuldade para socializar e sobreviver sob as novas realidades. E uma dessas realidades é sua identidade religiosa, que bem se sabe, é uma mistura de catolicismo e rezas de macumba. Na doença, não tendo assistência médica, recorriam a reza do terço, mas se não resolvesse, era na macumba que iam buscar socorro.

                E é nesse momento que a Linha dos Baianos chega com o papel de acolher esse povo que se sente acuado e constrangido com as dificuldades que encontram na sua nova vida. Até mesmo a ida às Igrejas católicas era evitada, pois naquele tempo, as missas eram frequentadas pela alta sociedade, o que deixava essas pessoas mais simples, intimidadas.

                Os Terreiros de Umbanda que vinham desde sempre sofrendo fortes ataques da Igreja Católica e da Polícia, agora conseguem o direito de registrar suas Casas em Cartórios, deixando então, mais fácil o acesso das pessoas aos seus cultos. Com esse acesso facilitado, podem agora exercer sua religiosidade num espaço onde se sentem mais à vontade. O Baiano, a Entidade, conhecendo origem e dificuldades dessa gente, chega falando de forma simples sobre assuntos em comum, criando um ambiente de acolhimento e empatia. A entidade Baiano é brincalhão, se apresenta sempre de forma despachada, deixando todos à sua volta bem à vontade. Mirongueiros, adoram uns feitiços, até porquê são exímios feiticeiros.

                Entenda-se, que sendo a Umbanda uma religião inclusiva e sempre atenta a diversidade, sempre haverá espaço para Espíritos comprometidos em valorizar e exaltar povos que fazem parte da construção do nosso país. Dito isto, é sabido que nem todo Baiano que se manifesta nos Terreiros, foram necessariamente nascidos na Bahia. No entanto, tem pelo Estado, por seus costumes, história e lutas grande admiração e devoção, passando a fazer parte daqueles que comungam do mesmo ideal. Na Aruanda, há uma dimensão denominada Bahia, onde estão reunidos esses Espíritos e Entidades. Isso se deve ao fato, da Bahia ser o ponto de partida que conta a história do nosso Brasil. Nessa dimensão se encontram os Pretos-Novos: jovens negros escravizados que chegaram ao Rio de Janeiro em condições deploráveis, e acabam morrendo. Muitos desses, conhecedores exímios das magias e fundamentos dos Orixás Africanos. É uma Linha que tem como princípio honrar e exaltar os Pais e Mães de Santo da Bahia por terem enfrentado todo tipo de dificuldades e preconceitos para manterem vivo o culto aos Orixás.


                “Não se meta com Baiano

                   Baiano não é brincadeira

                  Sou filho de dois baianos, não nego meu natural

                  Baiano dá auê

                  Baiano tira

                  Baiano leva pras ondas do mar”

               

                Essa curimba expressa bem a natureza dessas Entidades: mesmo que sejam alegres e brincalhonas, não gostam de brincar com coisa séria. E o que eles dão, de uma hora pra outra podem tirar e nunca mais voltar (vai pras ondas do mar), caso se sintam desrespeitados. Agora, quando eles se sentem bem cuidados, são amigos pra todo sempre.

 

                Uma Linha de trabalho que garante força e proteção. Os Baianos gostam de incorporar nas Giras de Boiadeiros e Pretos-Velhos. Os pedidos direcionados a eles, são relativos à quebra de magias negativas, abertura de caminhos para emprego, e estão sempre abertos a dar conselhos.

 

                Nas incorporações gostam de pitar cigarro de palha, fumo de rolo ou charuto. Apreciam uma boa marafo curtida no coco, água de coco, meladinha. Nas suas oferendas não pode faltar a cocada, o aipim com melado, o mugunzá. Suas guias geralmente são feitas com sementes, figas de guiné ou arruda, podendo acrescentar contas amarelas, vermelhas ou a cor pedida pela Entidade. Sua saudação é: ê Bahia!

                As folhas apropriadas para banhos em Giras dos Baianos são: guiné-pipiu, folha de coqueiro, fumo de rolo, folhas de mamona.

                Os nomes mais conhecidos dessa Linha são: Severino, Zé do coco, tio Simão, Severina, Maria do Carmo, João do Bonfim, Maria Baiana, Juvêncio, Zé Tenório...

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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