Entendendo a Umbanda como uma religião afro-brasileira, voltada para a valorização e exaltação a povos ancestrais socialmente excluídos, hoje exaltaremos a importância da Linha dos Baianos na Umbanda.
Essa falange é relativamente nova, ela aparece nos Terreiros nas décadas de 50 e 60, época considerada como pós revolução industrial, que implanta no Brasil nos idos de 1930 o trabalho manufaturado, provocando um movimento de migração do camponês para a zona urbana. E esse camponês atraído pelas oportunidades de trabalho, e ao mesmo tempo, a chance de fugir da seca que maltrata o Nordeste, ao chegar na cidade grande, precisa se adaptar a mudanças radicais e encontra muita dificuldade para socializar e sobreviver sob as novas realidades. E uma dessas realidades é sua identidade religiosa, que bem se sabe, é uma mistura de catolicismo e rezas de macumba. Na doença, não tendo assistência médica, recorriam a reza do terço, mas se não resolvesse, era na macumba que iam buscar socorro.
E é nesse momento que a Linha dos Baianos chega com o papel de acolher esse povo que se sente acuado e constrangido com as dificuldades que encontram na sua nova vida. Até mesmo a ida às Igrejas católicas era evitada, pois naquele tempo, as missas eram frequentadas pela alta sociedade, o que deixava essas pessoas mais simples, intimidadas.
Os Terreiros de Umbanda que vinham desde sempre sofrendo fortes ataques da Igreja Católica e da Polícia, agora conseguem o direito de registrar suas Casas em Cartórios, deixando então, mais fácil o acesso das pessoas aos seus cultos. Com esse acesso facilitado, podem agora exercer sua religiosidade num espaço onde se sentem mais à vontade. O Baiano, a Entidade, conhecendo origem e dificuldades dessa gente, chega falando de forma simples sobre assuntos em comum, criando um ambiente de acolhimento e empatia. A entidade Baiano é brincalhão, se apresenta sempre de forma despachada, deixando todos à sua volta bem à vontade. Mirongueiros, adoram uns feitiços, até porquê são exímios feiticeiros.
Entenda-se, que sendo a Umbanda uma religião inclusiva e sempre atenta a diversidade, sempre haverá espaço para Espíritos comprometidos em valorizar e exaltar povos que fazem parte da construção do nosso país. Dito isto, é sabido que nem todo Baiano que se manifesta nos Terreiros, foram necessariamente nascidos na Bahia. No entanto, tem pelo Estado, por seus costumes, história e lutas grande admiração e devoção, passando a fazer parte daqueles que comungam do mesmo ideal. Na Aruanda, há uma dimensão denominada Bahia, onde estão reunidos esses Espíritos e Entidades. Isso se deve ao fato, da Bahia ser o ponto de partida que conta a história do nosso Brasil. Nessa dimensão se encontram os Pretos-Novos: jovens negros escravizados que chegaram ao Rio de Janeiro em condições deploráveis, e acabam morrendo. Muitos desses, conhecedores exímios das magias e fundamentos dos Orixás Africanos. É uma Linha que tem como princípio honrar e exaltar os Pais e Mães de Santo da Bahia por terem enfrentado todo tipo de dificuldades e preconceitos para manterem vivo o culto aos Orixás.
“Não se meta com Baiano
Baiano não é brincadeira
Sou filho de dois baianos, não nego meu natural
Baiano dá auê
Baiano tira
Baiano leva pras ondas do mar”
Essa curimba expressa bem a natureza dessas Entidades: mesmo que sejam alegres e brincalhonas, não gostam de brincar com coisa séria. E o que eles dão, de uma hora pra outra podem tirar e nunca mais voltar (vai pras ondas do mar), caso se sintam desrespeitados. Agora, quando eles se sentem bem cuidados, são amigos pra todo sempre.
Uma Linha de trabalho que garante força e proteção. Os Baianos gostam de incorporar nas Giras de Boiadeiros e Pretos-Velhos. Os pedidos direcionados a eles, são relativos à quebra de magias negativas, abertura de caminhos para emprego, e estão sempre abertos a dar conselhos.
Nas incorporações gostam de pitar cigarro de palha, fumo de rolo ou charuto. Apreciam uma boa marafo curtida no coco, água de coco, meladinha. Nas suas oferendas não pode faltar a cocada, o aipim com melado, o mugunzá. Suas guias geralmente são feitas com sementes, figas de guiné ou arruda, podendo acrescentar contas amarelas, vermelhas ou a cor pedida pela Entidade. Sua saudação é: ê Bahia!
As folhas apropriadas para banhos em Giras dos Baianos são: guiné-pipiu, folha de coqueiro, fumo de rolo, folhas de mamona.
Os nomes mais conhecidos dessa Linha são: Severino, Zé do coco, tio Simão, Severina, Maria do Carmo, João do Bonfim, Maria Baiana, Juvêncio, Zé Tenório...