Na Nigéria Yemojá, em Cuba Yemayá, no Brasil Dona Janaína, Dandalunda, Inaé, Rainha do Mar, Mãe Sereia, Iemanjá. Em todos os cantos do mundo a Mãe dos Orixás, a Senhora de todas as cabeças. Seu culto foi trazido nos navios negreiros no fim do século XVIII por negros capturados em sua terra natal para serem escravizados no Brasil. Nessa dolorosa e desumana travessia pelo oceano atlântico, é sabido que muitos desses negros não suportaram os maus tratos e morreram. Seus corpos eram atirados ao mar, daí a escritora Kiussam Oliveira, pedagoga, doutora em educação, mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) afirma que o mar, em sua visão afroreferenciada, é um território que Iemanjá colheu esses corpos: “A gente olha e vê o mar como algo maravilhoso, incrivelmente gigante, majestoso, e até violento. Mas a gente não consegue ver o mar como um tumbeiro, como tumba, como um cemitério. E a gente não pode esquecer disso. Yemanjá e os orixás chegam ao Brasil exatamente a partir de 1600, quando o tráfico negreiro começou. O sequestro de negros e negras vindos do continente africano, a travessia do Atlântico até chegar ao Brasil. Os orixás chegaram ao Brasil através de negros e negras escravizados, sequestrados do continente africano”, aponta.
O pesquisador Nelson Varón Cadena escreve sobre a data escolhida para homenagear Iemanjá: “A data 2 de fevereiro é uma das duas datas mais importantes da igreja católica no mundo ocidental. É a data de purificação de Nossa Senhora, tanto que se celebra a Nossa Senhora da Purificação, a data da Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora do Rosário. Inicialmente, o culto a Iemanjá na Bahia era sincretizado com Nossa Senhora das Candeias. Existe, sim, o sincretismo. O 2 de fevereiro não é uma data aleatória", considera.
Desde então, dia 02 de fevereiro se transformou num grande encontro dos seguidores das religiões de matrizes africanas, em quase todo litoral brasileiro.
Para uns, Ela é branca, cabelos pretos e longos; outros, a veneram como a mulher negra de seios fartos; e ainda, como metade mulher e metade peixe. Todas as formas são permitidas, desde que se mantenha a essência Daquela que representa a Mãe de todos os Orixás, e, portanto, a Mãe de todas as cabeças. O fato de ser branca está associado ao sincretismo que até hoje perdura; quando negra, a grande expressão da luta e da força desse povo e sua ancestralidade, e principalmente, sua origem: a África.
“... quem ouvir o canto de Iemanjá, vai com ela pro fundo do mar.” Qual Umbandista já não ouviu essa cantiga, e se questiona sobre seu significado? Não é à toa que o mar, ao mesmo tempo que fascina, também causa medo. Afinal, quais segredos e mistérios ainda existem para serem explorados quando se trata do grande reino de Iemanjá? Fascinados por sua beleza e grandiosidade, muitos se deixam levar pelo som que vem de suas ondas, que os levam a refletir sobre seus sentimentos mais íntimos, e por vezes perturbadores. Muitos são os que choram à beira mar. Aí está o sentido da cantiga! Quando mergulham na intimidade do seu próprio eu, estão sendo levados por Iemanjá a conhecerem sua própria essência, a explorar suas emoções, sensações, defeitos e virtudes. Todos são filhos do mar, o mar está em todos, e por isso, o mar é sempre um lugar de aconchego, desprendimento, lazer, meditação e contemplação. Não há quem fique indiferente diante do mar.
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