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Foto do escritorLuiz de Miranda

FELIZ NATAL NA UMBANDA

Mundo fraterno

Na Umbanda, o mês de dezembro é festejado desde seu início por conta das homenagens às Yabás: Iansã (dia 04), Oxum (dia 08) e Yemanjá (dia 31). Esta última, recebe na passagem de ano, milhares de devotos em suas areias brancas, que imbuídos dos sentimentos de esperança, fé e gratidão, levam suas oferendas acompanhadas de seus pedidos e agradecimentos, numa tradição secular, que apesar de toda repressão que vem encontrando nos últimos anos por parte das igrejas neopentecostais, se mantém viva e firme.

                No dia 25, a Umbanda, por princípios crísticos, comemora o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho amado do Pai Oxalá, o Mestre do amor, da caridade, da tolerância e do perdão. Velas acesas, flores, frutas, pão e vinho tinto, enfeitam os altares umbandistas, como uma forma de homenagear e agradecer Àquele que trouxe lições tão importantes para a evolução espiritual da humanidade. É dessa forma, que a religião de Umbanda reafirma seu compromisso com tudo que foi ensinado pelo Mestre Jesus, fazendo da caridade um exercício constante para levar àqueles que a procuram, os bálsamos da esperança, da fé e da compaixão. A Umbanda é crística por excelência! Afinal, é a única religião que ao receber em seus Templos um irmão necessitado, não lhe impõe nenhuma condição para ser atendido em seus anseios. Todos são recebidos na Umbanda como Jesus Cristo recebia os que lhe procuravam...

                Sabemos bem que Jesus Cristo não conheceu a África dos Orixás, pois, viveu grande parte da sua vida no norte da África mediterrânea, como o Egito. Portanto, é pura falácia  de que a África é um continente amaldiçoado, considerando que Jesus, ao contrário das terras secas e inférteis na qual viveu, não teve nenhum contato com as florestas, fauna e flora da África dos Orixás. Mas, nem por isso, alguns Terreiros de Umbanda deixam de honrar e louvar sua existência e a data do seu nascimento. Afinal, estamos falando de um homem que dedicou sua vida para ajudar na evolução espiritual da humanidade. Merece todo nosso respeito e adoração, tal qual temos pelos nossos Guias e Orixás.

                Ressalto, que a Umbanda que praticamos não é cristã, até porque nem o próprio Jesus o foi. Mas, por reconhecer a grandeza e envergadura espiritual desse, que se tornou um grande Mestre de parte da humanidade, procuramos seguir seus princípios. Sendo assim, consideramo-nos crísticos, sem nenhum vínculo com dogmas, comportamentos ou sacramentos cristãos.

                O Natal na Umbanda é muito mais do que troca de presentes e mesas exageradamente fartas. Nesta data, os Guias e Orixás convidam a todos os seus fiéis para grandes reflexões:

                Mesmo que a doença tenha visitado seu corpo e invadido seu lar, tome uma superdose desses poderosos medicamentos: a fé e a esperança. Só através desses sentimentos e do seu exercício, vamos encontrar as respostas que precisamos e o lenitivo divino para suportar com dignidade esses dias mais difíceis, superando toda e qualquer dificuldade, na certeza de que tudo passa.

                Faça do aperto de mão e do abraço fraterno, o mais lindo dos presentes.                 Do sorriso acompanhado do perdão das ofensas, o prato principal.                    Da oração, a mais saborosa das bebidas, embriagando nossas mentes e corações com os fluidos salutares da alegria, compaixão e solidariedade.                                                                                                                                                             Da árvore de Natal, o acolhimento amoroso aos que nos pedem ajuda, para que sob as bênçãos da solidariedade possamos todos viver em harmonia.  

                Comemorar o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo é comemorar o amor em toda sua extensão, é saber que precisamos uns dos outros, e entender que só o amor é capaz de vencer qualquer adversidade.                                 Viver cada instante com alegria, fazendo de cada minuto uma oportunidade única, um presente de valor inestimável, uma chance valiosa para sermos pessoas melhores.

                Tenhamos todos um FELIZ NATAL!

                Saravá !

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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