Hoje vamos procurar entender um pouco mais sobre a importância das Crianças ou Ibejadas nos rituais de Umbanda.
O mês de setembro é dedicado a essa poderosa e imprescindível falange, que enche nossos Terreiros de cores, alegrias e muita esperança.
Mais do que incorporar essas Entidades, é preciso entender os seus reais fundamentos e sua importância para o nosso autoconhecimento enquanto seres em evolução. São elas que trabalham nossas mais íntimas lembranças e sentimentos. Em suas incorporações, buscam resgatar as mais doces lembranças da nossa infância e de todos aqueles que participam da Gira. De uma forma lúdica e bem-humorada acabam por despertar em nós valores e sentimentos já esquecidos com o passar dos anos. Elas brincam, cantam e conversam pouco, pois sua intenção é fazer com que cada um de nós se esqueça dos problemas diários e entre na grande ciranda da vida com muita alegria. Sim, elas nos ensinam que por pior que seja o momento que estamos passando, nada deve ser mais importante do que a vontade de viver e ser feliz.
As Crianças da Umbanda são espíritos de grande elevação e gozam diretamente das bênçãos de Deus e dos Orixás, pois só elas podem estar onde muitas vezes outras Entidades não o podem, provavelmente, por já terem passado por esses lugares (fases), e hoje, ‘crescidos e mais velhos’, tomados por outras responsabilidades, deixaram para trás a inocência e ingenuidade. Existe um ditado que diz: “A Criança pode desfazer qualquer trabalho feito por uma Entidade. Mas, nenhuma Entidade, desfaz o que uma Criança fez.”
São essas Entidades infantis que estimulam a nossa autoestima, nos ajudando a vencer a timidez, a insegurança, a solidão, a tristeza e o medo. Buscam em nossos ‘arquivos emocionais’, as melhores lembranças e com isso, nos fazem acreditar de novo, querer de novo, sentir de novo tudo que nos fez bem. Cuidar da nossa Ibejada, é cuidar da criança que habita em nós, sem traumas ou ressentimentos. É não ter vergonha do nosso passado, dos nossos erros ou de nossas frustrações. Afinal, na grande “ciranda da vida”, tudo acaba por serem grandes ensinamentos. A canção do Gonzaguinha expressa bem o axé dessas Entidades: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz.”
O comportamento das Crianças da Umbanda em nossos Terreiros é variado, pois depende muito do Orixá que as rege. Vai desde aquela mais chorona, manhosa, até a mais peralta e agitada. Mas todas com o propósito de garantir a limpeza e equilíbrio espirituais aos seus médiuns e participantes.
A Criança da Umbanda (Ibejada) ainda nos traz um grande ensinamento: o respeito aos mais velhos. Tem forte ligação com os Pretos-Velhos, aos quais devotam extremo carinho e consideração. Dessa forma, é fácil entender o que querem nos dizer: se queremos ter uma vida feliz e saudável, é importante que respeitemos e obedeçamos àqueles que chegaram primeiro que nós. Afinal, já percorreram caminhos que nós ainda percorreremos. E ter a bênção dos nossos pais e avós, é a certeza de uma velhice segura e bem amparada.
Carinho, gratidão, alegria, fé, boa vontade, compaixão e solidariedade, são sentimentos que nos aproximam das Crianças de Umbanda. Sendo assim, esforcemo-nos em alimentar esses sentimentos e colocá-los em prática, sempre que possível, ou mesmo, com muito esforço. O importante é não deixar morrer nossas esperanças e nossas alegrias.
Cuide bem da sua Criança, alimente-a com doçura.
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