Ao iniciar seu desenvolvimento num Terreiro de Umbanda, uma das primeiras coisas que o médium aprende é o cuidado com sua cabeça, a saber, que é por ela, que os Orixás e Guias se manifestam. Está na cabeça toda essência do Orixá que a rege. É pelo Ori (alto da cabeça) que o médium fortalece suas incorporações e alimenta o axé de seu Orixá. Ao dar início ao seu desenvolvimento na Umbanda, o neófito aprende desde logo, a cuidar e zelar por sua cabeça, tomando certos cuidados: não cortar o cabelo com qualquer profissional, não deixar qualquer pessoa passar a mão no alto, evitar jogar cabelos que ficam agarrados na escova, no lixo ou no vaso sanitário (procurar jogar em plantas, jardins ou estradas).
Como tudo que diz respeito às origens de palavras e rituais de religiões afro-brasileiras, há sempre várias versões, o que é compreensível, entendendo que toda essa cultura foi passada oralmente, e sofreu grandes violações, dado ao fato da escravização daqueles que detinham o conhecimento sobre os Orixás. Com a palavra amaci não foi diferente. Numa primeira versão, explicam que a palavra amaci vem de “amaciar”, “tornar receptivo”. Já em outra, falam em “amassar a folha”. Eu, particularmente, prefiro a origem das línguas bantu, onde se entende maza, que em kikongo quer dizer água, e malasi que quer dizer perfume, ou seja : água perfumada.
Independente da sua tradução, entendamos o ritual em si: o amaci tem como finalidade colocar o médium em contato direto com seu Orixá, pois as ervas que são maceradas e passam a representar o sangue verde dos Orixás, são colhidas em horários apropriados e pertencem ao Orixá Dono daquela cabeça que será lavada.
Quando esse ritual é realizado, o médium é fortalecido no axé do seu Orixá, seu ori é alimentado, garantindo maior equilíbrio em suas emoções e firmeza em suas incorporações. Não só médiuns de incorporação tomam o amaci, cambonos, filhos de fé também podem receber esse axé, pois, o amaci tem como finalidade limpar e fortalecer o ori. Um ori forte garante prosperidade, autoconfiança, coragem, autoestima e tudo que possa ajudar no crescimento e aperfeiçoamento moral, espiritual e material. Esse ritual é realizado geralmente uma vez por ano.
O amaci é o despertar da ancestralidade que está adormecida, é a consciência da importância de cuidar da sua própria história, buscando nessa ancestralidade a força que precisa para prosperar. O poder do amaci está nessa ligação forte e vibrante. No entanto, para vivenciar essa experiência, é preciso estar de corpo e alma receptivos. O coração e mente devem estar abertos para receberem o conhecimento e as bênçãos necessárias. Receber em sua Coroa o sangue verde do seu Orixá é um momento único, marcante e de extraordinária importância para todo aquele que quer seguir pelos caminhos da Umbanda. O amaci é a porta de entrada para essa nova vida. E para que essa nova vida traga as mudanças necessárias, é preciso que o filho desenvolva sua humildade e serenidade, ouça os mais velhos, observe e cuide das coisas do Terreiro, participe das Sessões e Reuniões de Estudo, honre o nome da sua Casa cumprindo com seus deveres e obrigações dentro e fora dela. Receba o amaci entendendo que está recebendo a oportunidade de viver o axé de seus Orixás em seu corpo e alma.
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