Desde que a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, consta nos livros de história que tal feito pôs fim a escravidão no Brasil. Por séculos essa narrativa fez parte do imaginário do povo brasileiro. No entanto, nos dias de hoje movimentos negros recontam esse episódio com o olhar daqueles que, ao serem “libertos”, nada receberam pelos anos de serviços prestados aos seus senhores. Homens, mulheres e crianças negras não foram libertas, foram despejadas das senzalas e jogadas ao léu passando a vagar pelas ruas sem destino, casa ou qualquer tipo de amparo. Tal qual na Roma antiga quando se jogavam cristãos nas arenas para enfrentar leões famintos, o povo preto se viu em situação semelhante: tendo que enfrentar a fome, a chuva, o frio, o total descaso do Império e o escárnio de uma sociedade branca e perversa. Tudo lhes foi negado, até a própria identidade. E tal situação ainda perdura nos dias de hoje, basta observar o número de pessoas pretas em situação de miséria, encarceradas, vivendo em lugares insalubres sem nenhuma ou quase nenhuma assistência do Estado, sem acesso a uma educação de qualidade, a cuidados com a saúde, a cultura e ao lazer...
Portanto, para o povo preto e para aqueles que lutam por uma sociedade justa e igualitária pra todos, a abolição da escravatura não foi uma dádiva, mas sim, o resultado da luta de um povo que não aceitava a condição de escravo. Até os dias de hoje essa luta continua. Não à toa, os Terreiros de Umbanda no dia 13 de maio, fazem soar seus atabaques e cânticos para louvar a força, a determinação, a coragem e a resistência do povo negro.
Falar de 13 de maio é falar de Zumbi dos Palmares (1), Dandara (2), Zacimba Gaba (3), Tereza de Benguela (4), Luísa Mahin (5) e tantos outros nomes que o racismo fez questão de esconder.
Para que o Umbandista entenda toda essa luta, necessário se faz que ele passe a olhar o seu país, o seu Terreiro, a sua comunidade e a sociedade onde vive, com o olhar de seu Preto(a)-Velho(a), para que não caia na armadilha daqueles que ainda insistem em marginalizar e demonizar tudo que vem da cultura negra.
É sempre importante ressaltar que a luta do povo preto foi e é pela igualdade de direitos civis, pela liberdade religiosa, pelos direitos das mulheres, dos homossexuais, dos pobres e todos aqueles que foram e são subjugados por uma sociedade racista e intolerante.
O preto não quer ser mais que o branco. Mas também não quer que o branco se ache mais que o preto.
Seu Preto(a)-Velho(a) não vai perguntar qual a sua cor ou raça, entretanto, é importante que você saiba a cor e raça dele, para que nunca se esqueça do quanto ele caminhou pra chegar até aqui. E quando descem no Terreiro, é pra trazer todas as bênçãos de suas conquistas: coragem, determinação, resiliência e muita sabedoria.
Afinal, quem caminha com Preto(a)-Velho(a) nunca fica no caminho!
Adorei as Almas!
É pras Almas!
(1) Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da luta contra a escravidão, lutou também pela liberdade de culto religioso e pela prática da cultura africana no País. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra. (https://www.palmares.gov.br/?page_id=8192)
(2) Guerreira do período colonial do Brasil, Dandara foi esposa de Zumbi, líder daquele que foi o maior quilombo das Américas: o Quilombo dos Palmares. Com ele, Dandara teve três filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton. Valente, ela foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII e auxiliou Zumbi quanto às estratégias e planos de ataque e defesa da quilombo. (https://www.palmares.gov.br/?p=33387#:~:text=Ela%20defendia%20que%20a%20paz,voltar%20na%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20escravizada.)
(3) Zacimba Gaba foi uma princesa guerreira cuja história foi, por muitos, esquecida, devido ao projeto que se impôs no Brasil de apagar a memória da escravidão.... - Leia mais em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/zacimba-gaba-princesa-angolana-que-foi-escravizada-e-lutou-pela-liberdade-de-seu-povo.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign=copypaste
(4) Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que deu visibilidade ao papel da mulher negra na história brasileira. Ela liderou por 20 anos, a resistência contra o governo escravista e coordenou as atividades econômicas e políticas do Quilombo Quariterê, localizado na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia.(https://al.se.leg.br/dia-nacional-de-tereza-de-benguela-relembra-a-resistencia-da-mulher-negra/#:~:text=Tereza%20de%20Benguela%20foi%20uma,Mato%20Grosso%20com%20a%20Bol%C3%ADvia.)
(5) Nascida em Costa Mina, na África, no início do século XIX, Luísa Mahin foi trazida para o Brasil como escrava. Pertencente à tribo Mahi, da nação africana Nagô, Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX. (https://www.palmares.gov.br/?p=26662)
ORAÇÃO AOS PRETOS VELHOS
Preto Velho Carreteiro de Oxalá, Bastão bendito de Zâmbi, Mensageiro de Obatalá, Meu pensamento eleva-se ao teu espírito e peço Agô. Que tuas guias sejam o farol que norteie minha vida, que vossa pemba trace o caminho certo para todos os meus atos, que vossas palavras, tão cheias de compreensão e bondade, iluminem minha mente e meu coração, que teu cajado me ampare em meus tropeços. Ontem te curvastes aos senhores… Hoje, ajoelho-me aos teus pés pedindo que intercedas junto a Oxalá por mim e por todos que neste momento clamam por vós. Maleme e paz sobre meu lar e que a luz divina de Obatalá se estenda pelo mundo, e que o grito de todos os orixás sejam o sinal de vitória sobre todas as demandas de minha vida. Maleme as almas. Maleme para todos os meus inimigos, para que saiam do negrume da vingança e encontrem fonte fecunda e clara do amor e caridade.
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