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13 de MAIO: LUTA E RESISTÊNCIA DO POVO NEGRO!

Atualizado: 15 de mai. de 2023


Desde que a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, consta nos livros de história que tal feito pôs fim a escravidão no Brasil. Por séculos essa narrativa fez parte do imaginário do povo brasileiro. No entanto, nos dias de hoje movimentos negros recontam esse episódio com o olhar daqueles que, ao serem “libertos”, nada receberam pelos anos de serviços prestados aos seus senhores. Homens, mulheres e crianças negras não foram libertas, foram despejadas das senzalas e jogadas ao léu passando a vagar pelas ruas sem destino, casa ou qualquer tipo de amparo. Tal qual na Roma antiga quando se jogavam cristãos nas arenas para enfrentar leões famintos, o povo preto se viu em situação semelhante: tendo que enfrentar a fome, a chuva, o frio, o total descaso do Império e o escárnio de uma sociedade branca e perversa. Tudo lhes foi negado, até a própria identidade. E tal situação ainda perdura nos dias de hoje, basta observar o número de pessoas pretas em situação de miséria, encarceradas, vivendo em lugares insalubres sem nenhuma ou quase nenhuma assistência do Estado, sem acesso a uma educação de qualidade, a cuidados com a saúde, a cultura e ao lazer...

Portanto, para o povo preto e para aqueles que lutam por uma sociedade justa e igualitária pra todos, a abolição da escravatura não foi uma dádiva, mas sim, o resultado da luta de um povo que não aceitava a condição de escravo. Até os dias de hoje essa luta continua. Não à toa, os Terreiros de Umbanda no dia 13 de maio, fazem soar seus atabaques e cânticos para louvar a força, a determinação, a coragem e a resistência do povo negro.

Falar de 13 de maio é falar de Zumbi dos Palmares (1), Dandara (2), Zacimba Gaba (3), Tereza de Benguela (4), Luísa Mahin (5) e tantos outros nomes que o racismo fez questão de esconder.

Para que o Umbandista entenda toda essa luta, necessário se faz que ele passe a olhar o seu país, o seu Terreiro, a sua comunidade e a sociedade onde vive, com o olhar de seu Preto(a)-Velho(a), para que não caia na armadilha daqueles que ainda insistem em marginalizar e demonizar tudo que vem da cultura negra.

É sempre importante ressaltar que a luta do povo preto foi e é pela igualdade de direitos civis, pela liberdade religiosa, pelos direitos das mulheres, dos homossexuais, dos pobres e todos aqueles que foram e são subjugados por uma sociedade racista e intolerante.

O preto não quer ser mais que o branco. Mas também não quer que o branco se ache mais que o preto.

Seu Preto(a)-Velho(a) não vai perguntar qual a sua cor ou raça, entretanto, é importante que você saiba a cor e raça dele, para que nunca se esqueça do quanto ele caminhou pra chegar até aqui. E quando descem no Terreiro, é pra trazer todas as bênçãos de suas conquistas: coragem, determinação, resiliência e muita sabedoria.

Afinal, quem caminha com Preto(a)-Velho(a) nunca fica no caminho!

Adorei as Almas!

É pras Almas!

(1) Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da luta contra a escravidão, lutou também pela liberdade de culto religioso e pela prática da cultura africana no País. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra. (https://www.palmares.gov.br/?page_id=8192)

(2) Guerreira do período colonial do Brasil, Dandara foi esposa de Zumbi, líder daquele que foi o maior quilombo das Américas: o Quilombo dos Palmares. Com ele, Dandara teve três filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton. Valente, ela foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII e auxiliou Zumbi quanto às estratégias e planos de ataque e defesa da quilombo. (https://www.palmares.gov.br/?p=33387#:~:text=Ela%20defendia%20que%20a%20paz,voltar%20na%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20escravizada.)

(3) Zacimba Gaba foi uma princesa guerreira cuja história foi, por muitos, esquecida, devido ao projeto que se impôs no Brasil de apagar a memória da escravidão.... - Leia mais em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/zacimba-gaba-princesa-angolana-que-foi-escravizada-e-lutou-pela-liberdade-de-seu-povo.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign=copypaste

(4) Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que deu visibilidade ao papel da mulher negra na história brasileira. Ela liderou por 20 anos, a resistência contra o governo escravista e coordenou as atividades econômicas e políticas do Quilombo Quariterê, localizado na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia.(https://al.se.leg.br/dia-nacional-de-tereza-de-benguela-relembra-a-resistencia-da-mulher-negra/#:~:text=Tereza%20de%20Benguela%20foi%20uma,Mato%20Grosso%20com%20a%20Bol%C3%ADvia.)

(5) Nascida em Costa Mina, na África, no início do século XIX, Luísa Mahin foi trazida para o Brasil como escrava. Pertencente à tribo Mahi, da nação africana Nagô, Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX. (https://www.palmares.gov.br/?p=26662)


ORAÇÃO AOS PRETOS VELHOS

Preto Velho Carreteiro de Oxalá, Bastão bendito de Zâmbi, Mensageiro de Obatalá, Meu pensamento eleva-se ao teu espírito e peço Agô. Que tuas guias sejam o farol que norteie minha vida, que vossa pemba trace o caminho certo para todos os meus atos, que vossas palavras, tão cheias de compreensão e bondade, iluminem minha mente e meu coração, que teu cajado me ampare em meus tropeços. Ontem te curvastes aos senhores… Hoje, ajoelho-me aos teus pés pedindo que intercedas junto a Oxalá por mim e por todos que neste momento clamam por vós. Maleme e paz sobre meu lar e que a luz divina de Obatalá se estenda pelo mundo, e que o grito de todos os orixás sejam o sinal de vitória sobre todas as demandas de minha vida. Maleme as almas. Maleme para todos os meus inimigos, para que saiam do negrume da vingança e encontrem fonte fecunda e clara do amor e caridade.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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